Econômico nos sustos, Annabelle 3 investe na expansão da série
Annabelle – De Volta Para Casa não é um filme. É um cardápio. Mais ainda: é o produto corporativo mais genial da temporada, um pedaço da máquina que se tornou o "universo" em torno do terror Invocação do Mal, que cavou um nicho bem sucedido e aparentemente irrefreável para o produtor James Wan. Se o primeiro Annabelle foi uma forma de faturar em cima de um elemento de cena do próprio Invocação do Mal, e A Freira surgiu de um demônio apresentado em Invocação do Mal 2, o terceiro Annabelle oferece uma variedade de novos spin offs, uma seleção de novas criaturas, lendas e aparições capazes de expandir ainda mais os filmes construídos em torno dos arquivos do casal Ed e Lorraine Warren. Tudo isso emoldurado por um terror com um roteiro esperto, que transfere a ação para o lugar mais óbvio em toda a série: a sala de artefatos na casa dos estudiosos do paranormal, uma coleção de traquitanas macabras, cada uma com sua própria história para contar.
Depois de passear por seu legado e por sua origem, De Volta Para Casa coloca Annabelle um pouco depois do prólogo do próprio Invocação do Mal, quando o casal Warren traz a boneca amaldiçoada, descrita como um "condutor para espíritos malignos", para o depósito de relíquias em sua casa. É a desculpa perfeita para recuperar Patrick Wilson e Vera Farmiga, aumentando a sensação de "universo compartilhado", mesmo que a história não gire em torno deles, e sim ao redor de sua filha, Judy (McKeena Grace, "veterana" em casas assombradas depois de A Maldição da Residência Hill). Estamos nos anos 70, Judy mal entrou na puberdade, e seus pais embarcam em mais uma de suas muitas viagens, deixando a garota sob os cuidados de uma babysitter dedicada, Mary Ellen (Madison Iseman). Mas a fama dos Warren já joga outro tipo de holofote em Judy, o que fica evidente quando uma amiga da babá, a modernosa Daniela (Katie Sarife), junta-se às duas e, com objetivos que o filme vai deixar claro, explora a casa dos Warren, entra na sala de artefatos e inadvertidamente desperta o demônio em Annabelle.
E basicamente é isso. O filme é uma versão de Uma Noite no Museu com demônios abissais no lugar de relíquias animadas. Com exceção de uma cena na escola de Judy, tudo acontece em sua casa, que se torna filial do inferno quando a influência de Annabelle estimula o surgimentos de todo o mal combatido e aprisionado pelos Warren. Foi uma decisão acertadíssima de James Wan, que bolou a história com seu parceiro, Gary Dauberman, aqui arriscando pela primeira vez o trabalho como diretor. O resultado é eficiente como narrativa e absolutamente genial como branding. Em pouco menos de duas horas, somos apresentados a pelo menos meia dúzia de filmes em potencial, todos capitalizando na marca Invocação do Mal. O cartaz de Annabelle – De Volta Para Casa dá as pistas: pode ser o vestido de noiva que transforma jovens em assassinas; o samurai do além; o barqueiro que conduz as almas para o além vida, mas às vezes vem a nosso plano cobrar uma dívida; ou ainda um lobisomem (sim, um lobisomem!), representado por algum incauto possuído pelo espírito-demônio de um cão do inferno.
Não há dúvida que é uma estratégia vencedora. Tome por exemplo A Freira. Depois de apavorar Vera Farmiga em uma cena chave de Invocação do Mal 2, a noviça do capeta ganhou seu próprio filme, que custou a bagatela de 22 milhões de dólares, para se tornar um terror gótico com 365 milhões em caixa. Porque este é outro segredo da longevidade deste universo iniciado quase que por acaso em 2013: os filmes são relativamente baratos para sair do papel, e o retorno é sempre um rolo compressor. O primeiro Annabelle garfou 257 milhões nas bilheterias com um orçamento de 6.5 milhões; sua continuação, A Criação do Mal, fez 306 milhões ao custo de 15 milhões. Não é exagero apostar em um sucesso similar, mesmo que o orçamento aqui seja um pouco mais gordo – justificado pela presença de Wilson e Farmiga, astros da série "principal" que emprestam um pouco do brilho aqui.
O filé da narrativa, entretanto, está concentrado no trio de protagonistas, com a interferência ocasional de um vizinho cheio de amor pra dar. McKeena Grace crava seu nome no topo do elenco e não faz feio em dar a Judy o equilíbrio de graça e escuridão que envolve a personagem. Assim como a mãe, ela parece ter o dom de enxergar fantasmas, e sua habilidade conduz a história com sustos rápidos e adições às vezes bizarras à "mitologia" da série – um jogo de tabuleiro possuído é particularmente esquisito. Gary Dauberman busca não se apoiar muito em sustos baratos, tentando construir uma atmosfera de tensão com explosões de pavor – uma televisão assombrada que sugere um futuro próximo não muito salutar para Daniela é particularmente eficiente. A própria Annabelle parece muitas vezes relegada ao segundo plano – o que é compreensível, já que De Volta Para Casa claramente tem a missão de apresentar novos filmes em potencial. É um teaser eficiente e nada sutil de coisas que estão por vir, embalado em um filme de terror de poucos sustos, bastante divertido e que mostra que até o conceito mais batido pode funcionar quando a ambição é modesta.
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