Bling Ring e a farsa chamada Sofia Coppola
Roberto Sadovski
20/08/2013 23h33
O que nos leva a Sofia Coppola. Filha de um dos maiores cineastas da história, ela seguiu a carreira do pai, mas a cada novo filme mostra que o talento não é de sangue. Sob sua direção, Bling Ring deixa de lado toda e qualquer discussão sobre motivos e consequências da ação daquele grupo de jovens – que roubavam, vangloriavam-se e, por um momento, sentiam-se eles próprios como celebridades. Como filme, não passa de um fetiche. O elenco, que inclui Emma Watson e Taissa Farmiga, é uniformemente péssimo. Sofia está mais preocupada em mostrar a molecada invadindo casas alheias do que em entender o que está acontecendo. E tome mais um assalto, seguido de mais comentários entediados dos pequenos meliantes, fotos no facebook, outro assalto, noitadas em clubes movimentados, roupas, sapatos e um imenso vazio de idéias. É a vida em Los Angeles, é algo que a diretora conhece com a palma da mão. E parece também ser o único universo sobre o qual ela parece querer dizer alguma coisa.
Sua estreia como diretora, As Virgens Suicidas, de 1999, apontava um outro caminho. Com delicadeza ao tratar de um filme tão denso, Sofia Coppola ganhou simpatia imediata e acertou em cheio com seu segundo filme, o emblemático Encontros e Desencontros, de 2003. Uma fantasia autobiográfica, o filme retrata a amizade de um ator no entardecer de sua carreira, no Japão para gravar um comercial. Lá ele se torna amigo e confidente da jovem esposa de um fotógrafo que não lhe dá a menor atenção. A dupla inusitada, mais e mais próxima ante o impacto de enfrentar uma cultura tão diferente e tão peculiar quanto a japonesa, tornou-se o retrato do choque de gerações do novo milênio – nunca antes Bill Murray foi tão cool, nunca antes Scarlet Johannson surgiu tão bela, frágil e sedutora.
Encontros e Desencontros ainda é seu melhor filme, e também o prelúdio de uma carreira obcecada pela auto referência e pela mesma cultura de celebridades em que ela cresceu. Maria Antonieta, de 2006, trocou a tragédia da rainha da França perante a revolução francesa por um clima histérico e "moderno" que servia para camuflar as deficiências narrativas e as péssimas escolhas em tom e em estilo. Em Algum Lugar, lançado em 2010, basicamente é o mimimi dos endinheirados, com o ator interpretado por Stephen Dorff atravessando uma crise existencial enquanto se hospeda em um dos hotéias mais luxuosos de Los Angeles. Sua "humanização" começa quando ele é obrigado a cuidar da filha de 11 anos (Elle Fanning, a melhor coisa do filme) e, como reza o clichê, amadurece e acorda para a vida. A execução, em ambos os filmes, é monocórdica, pouco atraente. Em todos os casos, é Sofia olhando para o próprio umbigo.
Nesse prisma, Bling Ring é uma progressão natural. Abordar o mesmo tema, por sinal, não é pecado. Woody Allen, salvo exceções, faz o mesmo filme há anos, e ainda consegue criar algo delicado e divertido como Meia-Noite em Paris. Ora, os Ramones fizeram a mesma música por décadas e sempre foram uma das melhores bandas de rock do mundo! O problema é a repetição sem visão, é insistir num tema sem ter o que acrescentar. E Bling Ring, no fim das contas, vai para a história como o filme que Hermione ganhou um irritante sotaque californiano.
Sobre o autor
Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".
Sobre o blog
Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.