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Adaptação de Uncharted ganha diretor... mas Uncharted precisa virar filme?

Roberto Sadovski

05/02/2014 23h36

Que Uncharted, uma das séries de games mais sensacionais dos últimos anos, vai virar filme, não chega a ser novidade. Exclusivo para as plataformas da Sony, o jogo segue as aventuras de Nathan Drake, aventureiro e caçador de tesouros no estilão Indiana Jones/Lara Croft que cruza o mundo para resgatar artefatos, desvendar mistérios e, ocasionalmente, salvar o mundo. A trilogia já vendeu 17 milhões de jogos pelo mundo e um quarto Uncharted está sendo preparado para o PS4. A versão para cinema já foi cobiçada por David O. Russell (Trapaça), que imaginou uma aventura com Bradley Cooper (claro) no papel de Drake, e o improvável time de Os Bons Companheiros, Robert De Niro e Joe Pesci, como coadjuvantes. Agora o Deadline reporta que um novo roteiro, pelas mãos de David Guggenheim (Protegendo o Inimigo), está nas mãos do diretor Seth Gordon, responsável pelo documentário incrível The King of Kong, pela comédia bacana Quero Matar Meu Chefe e pela comédia inclassificável Uma Ladra Sem Limites.

Daí fica a pergunta: pra que diabos Uncharted precisa virar filme?

Quando o "clássico" Super Mario Bros. invadiu os cinemas em 1993, com Bob Hoskins, Denis Hopper e muita vergonha alheia, Hollywood sinalizou que havia encontrado um novo filão para explorar. O sucesso nem sempre correspondeu às expectativas, mas foi divertido ver Street Fighter, Mortal Kombat, Wing Commander, Double Dragon (ok, esse não), Resident Evil, Tomb Raider e dezenas de outros jogos deixar as telinhas de consoles e computadores para ganhar "vida" no cinema. Só que o momento era outro. Como a tecnologia para produzir os jogos ainda era limitada, dava para bolar alguma história usando os games como ponto de partida. Era uma linha narrativa rasa feito pires ganhando outra mídia. Diretores e produtores fritando os miolos para "traduzir" uma ou outra característica do jogo em celulóide (a câmera em primeira pessoa de Doom que o diga). E nunca era talento de primeiro time no comando dos projetos, que não passavam de caça níqueis bem descarados tentando lucrar em cima de um ou outro fenômeno.

Mas a coisa mudou. Os games deram saltos quânticos não só na qualidade visual, mas também na narrativa. Os jogos mais populares não se contentam em colocar o usuário comandando algum bonequinho que avança em cenários eliminando chefes de fase. A narrativa se tornou complexa, o backstory dos personagens é tão importante quanto a mecânica do jogo. Os três Uncharted, por exemplo, trazem uma trama elegante e complexa, um roteiro bem trabalhado, com ótimos diálogos, reviravoltas, arcos de personagens… Não controlamos o personagem, e sim compartilhamos um recorte de sua "vida". Games brilhantes como The Last of Us e Heavy Rain em nada ganhariam ao ser levados para outras mídias. Beyond: Two Souls traz Ellen Page e Willem Dafoe como protagonistas, nublando ainda mais a linha entre narrativa cinematográfica e interativa. E poucos filmes no cinemão recente trazem tanta ação, suspense, drama e momentos espetaculares como a série BioShock, a trilogia Arkham com o Batman ou o espetacular Halo.

O máximo que Hollywood pode fazer com os games modernos é encará-los como literatura ou teatro: a versão de uma obra de arte que respira muitíssimo bem sem precisar de uma muleta no cinema. O bacana é ver que gente talentosa parece enxergar isso e encara o trabalho não como uma adaptação, mas como outro caminho traçado com o mesmo rascunho. É empolgante imaginar o que Duncan Jones (Lunar) pode fazer com um universo tão vasto como o de Warcraft – que sai para os cinemas em 2016. Ou acompanhar a descoberta deste mundo por Michael Fassbender, que não é gamer mas ficou entusiasmado com a trama de Assassin's Creed e está bancando o filme baseado na série de "ficção científica histórica". Seth Gordon tem nas mãos o trampo de fazer com que Uncharted no cinema seja uma criatura única, que não precise de comparações com os jogos originais. Que seja, no fim das contas, um ótimo filme. Veja pelo lado bom: a aventura de Nathan Drake não será dirigida por Uwe Boll. Já é um avanço.

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.