Homem-Aranha, uma vida que não está (só) no gibi, parte 1: o herói animado!
Roberto Sadovski
22/04/2014 15h44
O Homem-Aranha foi apresentado ao mundo em agosto de 1962 na edição 15 de Amazing Fantasy – título que estava indo para o buraco. Mas não demorou muito para o personagem a) ganhar gibi próprio e b) deixar as amarras dos quadrinhos para tomar outras mídias. E o personagem atacou na TV, tanto como animação quando em uma série live action, foi importado para o Japão, protagonizou um punhado de séries animadas, deixou sua marca em videogames, e trilhou um árduo caminho para finalmente ganhar o cinema. E é nos desenhos da TV, para muitos o começo da paixão pelo herói, que eu começo este mergulho no túnel do tempo aracnídeo. E pensar que quase o Homem-Aranha não saiu da gaveta, já que o chefe do roteirista Stan Lee era veementemente contra o personagem porque as pessoas tem medo de… aranhas. Vai entender…
"Does Whatever a Spider can…"
Como muita gente da minha geração (40-e-poucos, vai), a apresentação ao Homem-Aranha foi na animação exibida na TV ianque entre 1967 e 1970 – e reprisada ad infinitum em torno do Globo nos anos seguintes. A qualidade, no padrão da época, já era um salto comparada à dos outros heróis Marvel que ganhavam a telinha. A série já nasceu clássica, do design que seguia de perto o conceito de Steve Ditko e de John Romita (consultor do programa), à música-tema, tão ligada ao herói quanto o tema de John Williams é sinônimo do Superman no cinema. O orçamento reduzido obrigava uma repetição de templates de episódio para episódio, e o traje do herói perdeu seu emaranhado de teias – mantido somente na máscara, botas e luvas. Com 52 episódios, Spider-Man influenciou uma geração que, ao descobrir o cabeça de teia na TV, corria para as bancas para mais uma dose de aventuras de papel.
Foi só em 1981 que o Homem-Aranha ganharia uma nova série animada, seguindo o Novo Quarteto Fantástico (1978) e Mulher-Aranha (1979). Apesar de trazer os vilões clássicos do herói em aventuras melhor cuidadas que sua antecessora, a série não fez tanto sucesso quando Homem-Aranha e Seus Amigos, exibida na mesma época, que trazia o aracnídeo dividindo a casa da Tia May com o Homem de Gelo, dos X-Men, e a Estrela de Fogo, heroína criada especialmente para a telinha. Ah, e tia May tinha uma cachorrinha, a Srta. Leoa… As duas séries, apesar de conectadas por um episódio, tinham vida independente. Mas as aventuras do Aranha com a dupla de gelo e fogo ganhou mais fãs quando passou a ser exibida ao lado de uma nova série animada do Hulk. Ainda assim, a temática era extremamente infantil, desviando bastante do ótimo momento que os quadrinhos passavam.
Mais uma década se passou para o Homem-Aranha ganhar outra chance como animação – e a série de 1994 da Fox Kids provou ser, de longe, a mais popular e a mais fiel aos gibis do herói. O foco são os anos de Peter Parker como aluno universitário, fotógrafo freelancer do Clarim Diário, e combatente do crime. Boa parte da galeria de vilões ganhou um redesign mais moderno (para os padrões dos anos 90, claro), que logo se popularizaram em séries de brinquedos, games e outras traquitanas. Contemporânea da série animada dos X-Men, Spider-Man tinha produção própria da Marvel Animation e trazia a primeira pista de um universo coeso: além dos mutantes, outros heróis deram as caras na animação, como o Demolidor, Quarteto Fantástico, Dr. Estranho e o Justiceiro. Sem falar que a origem de Venom, um dos vilões mais icônicos do Aranha, ganhou versão definitiva na série, que durou longos 65 episódios.
Daí em diante, a TV nunca mais deixou de exibir uma série animada do herói, com variados graus de sucesso. Em 1999, Spider-Man Unlimited colocou o Aranha em outro planeta, longe de seu habitat natural: como a Sony e a Marvel haviam entrado num acordo para animação, a Sabam, produtora de Unlimited, não podia usar vários elementos tradicionais do aracnídeo, como seu uniforme ou mesmo adaptar tramas dos gibis. O jeito foi colocar Peter Parker num traje nanotecnológico (!) apropriado de Reed Richards, do Quarteto Fantástico, e mandá-lo para um mundo habitado por homens-fera. Não deu certo, e a série morreu na primeira temporada sem ao menos concluir sua trama. A parceria da Marvel com a Sony, por sinal, também não foi muito feliz. Spider-Man: The New Animated Series continuava, superficialmente, a trama do filme que Sam Raimi colocou nos cinemas em 2002. Mas nem a voz de Neil Patrick Harris conseguiu salvar essa animação horrorosa – renderizada em CGI, consegue ser mais tosca que o desenho dos anos 60 – do fracasso.
A expectativa, portanto, não era das melhores para mais um desenho do Aranha. The Spectacular Spider-Man foi lançado em 2008, e a surpresa foi geral. A animação, os roteiros, a dinâmica, a interação entre os personagens: TUDO era superior a todas as encarnações animadas do herói. O estilo remete às primeiras aventuras do herói nos quadrinhos, quando Stan Lee e Steve Ditko lapidaram sua personalidade e sua imensa galeria de coadjuvantes. Em duas temporadas, centradas nos anos de Peter Parker ainda no colégio, Spectacular conseguiu resumir tudo que faz do personagem incrível. Pena que não foi além: nos bastidores, a Sony devolvia os direitos de TV do Homem-Aranha para a Marvel, que na época estava sendo vendida para a Disney.
E é na Disney que Ultimate Spider-Man, a série animada mais recente do herói, encontrou seu lar em 2012. Baseada em elementos da releitura que a Marvel fez no Aranha na virada do milénio – a linha Ultimate zerou os heróis da editora, que ganharam origens modernizadas em um universo alternativo –, o desenho também faz uma aproximação com o Universo Cinematográfico Marvel, colocando o Cabeça de Teia interagindo com Nick Fury, da SHIELD, além de trabalhar com os Vingadores e ter a participação de outros heróis da editora, como o Senhor das Estrelas, Nova e o Dr. Estranho. Não é tão bacana quanto Spectacular Spider-Man, mas está no caminho certo.
Fique esperto, a exploração do Homem-Aranha fora dos quadrinhos continua aqui no blog, ainda esta semana!
Sobre o autor
Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".
Sobre o blog
Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.