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Homem-Aranha, uma vida que não está (só) no gibi, parte 3: ação nos games

Roberto Sadovski

29/04/2014 05h35

O que seria melhor do que acompanhar as aventuras do Homem-Aranha? Ora, tornar-se o Homem-Aranha, claro! Quando o herói deixou as páginas dos quadrinhos para abraçar outras mídias, o caminho lógico era promover uma interação do leitor com o herói, fazendo com que ambos se tornassem um só. Quando os consoles de video game da geração jurássica se popularizaram nos anos 80, era questão de tempo até o Cabeça de Teia ganhar uma versão em pixels, que pudesse ser controlada do lado de cá. E foi o que aconteceu em 1982, quando a Parker Brothers lançou Spider-Man para o onipresente Atari 2600. A trama é simples: o Aranha tinha de subir a parede de um prédio, resgatar reféns e desativar uma bomba armada no topo pelo Duende Verde. Em teoria, um jogo bacana. Já na prática…

É sério que alguém acha isso aí… divertido?

Vamos ser honestos aqui. Essa história de "os video games antigos eram mais divertidos" é papo furadíssimo. Jogar mais de 5 minutos de Enduro, River Raid, Pitfall ou Didi na Mina Encantada é para testar a paciência de qualquer um. Os jogos eram feios, confusos, entediantes… Claro que a tecnologia era aquilo mesmo, e os games antigos ajudaram a abrir espaço para as novas gerações, blablablá. Spider-Man em particular é insuportável. O único mérito foi seu pioneirismo – o que não adiantou muito pelo resto da década de 80, que viu a popularidade dos consoles domésticos despencar. Em 1989, Spider-Man and Captain America in Doctor Doom's Revenge surgiu para PC e similares, mas em pouco lembrava os grandes team ups de heróis nos gibis. The Amazing Spider-Man, lançado em 1990 para o Amiga, ao menos trazia um plot mais similar aos gibis (Mary Jane é raptada por Mysterio), mas a ação foi substituida por puzzles que representavam, em vários ambientes, a obsessão do vilão por cinema.

O avanço da tecnologia fez bem ao Aranha nos games, e quando as histórias em quadrinhos e a nova geração de consoles experimentaram um boom nos anos 90, novos jogos começaram a caprichar mais nas tramas e na jogabilidade. Primeiro foi o portátil Game Boy, da Nintendo, que colocou o herói numa aventura bacana em The Amazing Spider-Man (dá para ver que o pessoal não era muito criativo com os títulos…) em 1990. Duas continuacões, em 1992 e 1993, deram segmento ao Aranha no Game Boy. Mas a coisa começou a ficar séria quando a Sega lançou The Amazing Spider-Man Vs. The Kingpin para o Mega Drive em 1990. Foram infinitas as horas que eu passei tentando resgatar Mary Jane (de novo) das garras do Rei do Crime. E foi a primeira vez que um jogo não só tentou reproduzir as habilidades do herói, como também a atmosfera de sua vida em Nova York e seu trabalho como fotógrafo para o Clarim Diário – fluido de teia não sai de graça…

Mary Jane, a donzela em perigo no jogo da Sega de 1990

O contra-ataque da Nintendo foi buscar inspiração mais direta nos gibis, e em 1992 Spider-Man: Return of the Sinister Six colocou o herói em rota de colisão com seus vilões mais perigosos: Electro, o Homem de Areia, Mysterio, o Duende Macabro, o Abutre e o Dr. Octopus. No mesmo ano, as plataformas de 16 bits receberam Spider-Man/X-Men: Arcade's Revenge, que deu ao Cabeça de Teia a missão de resgatar Wolverine, Ciclope, Tempestade e Gambit das mãos do vilão do título – uma vez à salvo, cada um se juntava ao Aranha na trama. Os gibis passaram a influenciar ainda mais os jogos nos anos seguintes. Spider-Man and Venom: Maximum Carnage, de 1994, adaptou a maxissérie dos gibis em um jogo que até hoje é um dos mais bacanas com o Homem-Aranha. No ano seguinte, Venom/Spider-Man: Separation Anxiety e The Amazing Spider-Man: Lethal Foes (este lançado apenas no Japão), estreitaram ainda mais os laços games/HQs.

Com o título simples Spider-Man, o jogo de 1995 também para o Super NES e Mega Drive deixava os quadrinhos um pouco de lado para se concentrar no tremendamente bem sucedido desenho animado do herói, em exibição na TV americana de 1994 a 1998. Apesar dos belos gráficos e da nota máxima no quesito diversão, o formato side scrolling estilo Final Fight, basicamente o mesmo em todos os jogos até então, já havia se esgotado. A tecnologia dos games caminhava para a próxima geração, mas não havia mais sentido repetir o mesmo esquema com o Homem-Aranha. Por isso que Marvel Super Heroes, que chegou aos arcades com a assinatura da mesma Capcom de Street Fighter e X-Men: Children of the Atom, foi a surpresa que gamers e fãs de gibis esperavam. Neste já clássico jogo de luta, cada herói (Capitão América, Homem de Ferro) trazia movimentos especiais e habilidades específicas – o Homem-Aranha pela primeira vez parecia uma versão animada e controlável do herói aracnídeo dos gibis, numa série que deu origem a mais seis games, misturando heróis Marvel com personagens da Capcom, começando por Street Fighter até lutadores pincelados de Resident Evil, Mega Man, Darkstalkers e até Ghosts 'n Goblins. Uma mistureba de jogo de luta com side scrolling, seguindo uma trama, aconteceu em Marvel Super Heroes: War of the Gems, de 1996.

O Aranha contra o Fanático no viciante Marvel Super Heroes

O novo século trouxe um salto significativo na tecnologia dos games, e em 2000 a Activision lançou Spider-Man, um jogo multiplataforma que mostrava o herói de maneira inédita nos jogos. Com o Aranha capaz de se balançar entre os prédios e escalar qualquer superfície, a aventura foi um salto evolutivo para os games do herói, ganhando uma continuação no ano seguinte, Spider-Man 2: Enter Electro. Desenvolvido pela Neversoft, usando a mesma tecnologia usada no sucesso Tony Hawk's Pro Skater 2, os jogos quebravam a monotonia do mundo em duas dimensões para criar aventuras com o herói movendo-se para qualquer direção… menos para o chão: cair entre os prédios significava a morte do Aranha. Quando Spider-Man: The Movie chegou em 2002, aproveitando o sucesso do filme de Sam Raimi, a produtora Treyarch aproveitou o estilo do game da Neversoft, ampliando as possibilidades de combate do herói. Spider-Man 2: The Game e Spider-Man 3: The Game, foram adaptações perfeitas dos outros filmes de Raimi, com o Aranha navegando com liberdade quase irrestrita por uma Nova York digital, seja entre os prédio, seja no chão, seja no topo dos mais altos arranha-céus.

A tecnologia de ponta limitou os novos jogos do Homem-Aranha apenas na imaginação dos roteiristas, que criaram tramas inéditas para jogos desenvolvidos principalmente para PS3 e X-Box 360. O sucesso dos games refletiu em seu orçamento, já que as tramas passaram a ser escritos por roteiristas dos quadrinhos e a voz do Aranha e de outros personagens passaram a ser providenciadas por atores de cinema e TV. Nessa leva, surgiram Friend or Foe (2007), Web of Shadows (2008), Shattered Dimensions (2010), que permitia jogar com outras versões do herói, como o Homem-Aranha 2099 ou o Homem-Aranha Noir, e Edge of Time (2011). Os novos filmes, protagonizados por Andrew Garfield, renderam o que talvez sejam os jogos visualmente mais perfeitos com o Homem-Aranha – eu joguei uma versão de teste para The Amazing Spider-Man 2 e é de encher os olhos, com a ação intercalada com missões paralelas e o uso de até quinze (!) diferentes versões do herói.

O Homem-Aranha 2099 em Shattered Dimensions

O meu game favorito com o Cabeça de Teia, porém, não foi feito para os super consoles mega modernos. É de 2005 e gastou minhas digitais no controle do PS2: Ultimate Spider-Man. Para o leitor de quadrinhos, não tem como não se envolver completamente em um jogo que, roteirizado por Brian Michael Bendis, complementa a trama de vários arcos do gibi Homem-Aranha Ultimate, preenchendo lacunas que a trama de papel havia deixado. Divertido, com animação lindíssima, comandos que deixam o controle do Aranha perfeito, convidados especiais e uma trama bacana, em que a ação é misturada com painéis desenhados pelo artista do título Mark Bagley, Ultimate Spider-Man ainda é o jogo do herói a ser batido. Mas ninguém vai reclamar se produtores de seus games, agora chegando na novíssima geração, continuarem tentando.

Ultimate Spider-Man: o melhor de todos

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.