Homem-Aranha estreou há 13 anos e fez história com 114 milhões de dólares
Roberto Sadovski
03/05/2015 21h54
Em 3 de maio de 2002, eu estava em São Francisco para o lançamento de Star Wars: Ataque dos Clones. Algumas semanas antes, havia visto o filme que mudaria para sempre o conceito de "filme de super-heróis" para a indústria, o Homem-Aranha dirigido por Sam Raimi. O "filme-evento com coração", como escrevi na falecida revista SET, que então eu dirigia. Mas nem Raimi, nem a Sony, nem ninguém poderia prever o barulho que a aventura com Tobey Maguire e Willem Dafoe estava para fazer. A estreia foi em 3 de maio e eu fui rever o filme, cinema entupido, contribuindo com uns 12 dólares para sua estreia; quando o fim de semana terminou, Homem-Aranha somava impressionantes 114 milhões de dólares na bilheteria. Era a primeira vez que um filme quebrava a barreira dos nove dígitos em sua estréia, fazendo com que a indústria prestasse mais atenção nos heróis dos gibis sendo levados ao cinema. Com a estreia monumental de Vingadores: Era de Ultron este fim de semana, somando 188 milhões de dólares e fincando o pé como segunda maior abertura da história (atrás apenas dos 207 milhões que seu antecessor faturou em seus três primeiros dias em 2012), é impressionante observar como panorama mudou em pouco mais de uma década.
Não que Homem-Aranha não fosse um dos lançamentos mais esperados em 2002 – principalmente depois do teaser que mostrou o herói prendendo bandidos em meio ao World Trade Center. Até ali, entretanto, só X-Men, que Bryan Singer fizera em 2000, indicou que os personagens da Marvel poderiam ter vida fora do papel. A bem da verdade, tirando os dois Batman de Tim Burton, adaptações de quadrinhos bem sucedidas artística e comercialmente eram raridade. X-Men foi uma surpresa que faturou quase 300 milhões de dólares. Mas Homem-Aranha foi um animal diferente. De longe o personagem mais famoso da Marvel, o herói amargou mais de uma década em uma teia legal intrincada, com diferentes estúdios disputando seus direitos cinematográficos. A escolha de Sam Raimi para a direção foi decisão de gênio dos produtores, que trabalharam em um roteiro "por comitê" desenhado para agradar a uma plateia bem mais ampla que os fãs hardcore. Assim, o filme tornou-se tanto a materialização da origem do herói em celulóide quanto uma aventura romântica, com direito a vilão caricato, mocinha em perigo e algumas pistas para o futuro. Funcionou, e Homem-Aranha tornou-se um fenômeno, deixando o Episódio 2 de George Lucas comendo poeira e terminando sua carreira nos EUA pouco à frente de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres.
O feito de Homem-Aranha foi tão impressionante que levou dois anos para outro filme quebrar a barreira dos 100 milhões em sua estreia (Shrek 2, que abriu com 108 milhões) e quatro para ser superado, tarefa de Piratas do Caribe: O Baú da Morte e seus 136 milhões de abertura em 2006. Uma vida inteira atrás, quando não havia Universo Cinematográfico Marvel, não havia a menor possibilidade de heróis dividirem o mesmo filme e, principalmente, não havia a Marvel como marca de peso nas bilheterias. Com seus personagens espalhados em diversos estúdios, sua transformação em produtor independente só aconteceu em 2008, num acordo com a Paramount que distribuiu o primeiro Homem de Ferro, anos antes de a Disney injetar 4 bilhões de dólares e comprar a empresa e seus milhares de personagens. Raimi ainda dirigiu mais dois filmes do Cabeça de Teia – o segundo ainda é o melhor de todos; o terceiro, uma bagunça conceitual que, apesar de grande momentos, tornou-se o modelo de como não misturar uma dúzia de personagens em diferentes linhas narrativas. Ainda assim, é o mais bem sucedido da série, com 890 milhões de dólares em caixa.
O sucesso da aventura leve e irresistível que colocou o Homem-Aranha contra o Duende Verde abriu as portas para o gênero que hoje basicamente domina o cinema. Depois de Homem-Aranha, a Warner recolocou o Batman nos trilhos com a trilogia Cavaleiro das Trevas, filmes de super-heróis mais ousados como Watchmen e Hellboy saíram da gaveta. Hoje é impossível pensar em cinema sem pensar também em super-heróis, com três dezenas de aventuras saídas de gibis estreando até 2020. Com os números gigantes que Vingadores: Era de Ultron já soma em sua carreira com apenas duas semanas em cartaz pelo mundo (já são 626 milhões de dólares em caixa, e contando), e os 4 bilhões que cinco filmes com o aracnídeo faturaram desde 2002, é assustador imaginar o estrago que a união das duas marcas vai causar nas bilheterias quando o Homem-Aranha for integrado ao Universo Cinematográfico Marvel ano que vem em Capitão América: Guerra Civil, antes de seu próximo filme-solo, agendado para 2017, que pode ser batizado Homem-Aranha: O Novo Vingador. E tudo começou treze anos atrás, com um garoto aprendendo que grandes poderes trazem grandes responsabilidades.
Sobre o autor
Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".
Sobre o blog
Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.