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Magro e abatido, Mark Wahlberg é um jogador compulsivo em O Apostador

Roberto Sadovski

29/06/2015 16h44

Às vezes, nem todo pedigree do mundo é capaz de colocar um filme nos cinemas. O Apostador traz Mark Wahlberg na refilmagem de um drama do aclamado James Toback – estrelado por James Caan em 1974 –, dirigido por Rupert Wyatt, que transformou o potencialmente equivocado Planeta dos Macacos – A Origem em um tiro certeiro que reiniciou a série. Nos cinemas ianques, o filme foi lançado de olho na temporada de premiações de cinema ano passado mas estacionou em uma bilheteria de 33 milhões de dólares, batendo na trave de seu custo de 25 milhões. Aqui, seu lançamento foi direcionado para o mercado de home vídeo.

Mas números, honestamente, só importam para os executivos dos estúdios. O Apostador é um raro drama adulto que aborda um tema controverso: o mundo dos apostadores compulsivos. Wahlberg é Jim Bennett, professor de literatura e escritor de sucesso – mesmo que seu auge pareça pertencer ao passado. Ele encontra-se num espiral descendente em que os riscos em empreender apostas cada vez mais altas traduzem-se em dívidas igualmente pesadas, envolvendo agiotas perigosos que colocam seu pescoço, e das pessoas que ele gosta, como sua mãe (Jessica Lange) e a estudante por quem ele se interessa (Brie Larson), em risco.

Mark Wahlberg joga como Jim Bennett, observado com desconfiança por Brie Larson

Rupert Wyatt, por sinal, não acredita que O Apostador seja um filme sobre o vício – mesmo que admita parecer justamente sobre isso. "James Toback era um apostador, assim como Dostoyevsky, em quem ele se inspirou em primeiro lugar para fazer o filme original", conta o diretor, em um papo por telefone. "Todo artista coloca seus demônios no papel, é algo catártico, um modo de encarar seu lado sombrio." É exatamente esse o fundamento do arco dramático de Jim: "À distância a história parece sobre vício, e não é. É impossível se recuperar de um vício. Este sujeito está totalmente em controle, ele tem total consciência que está em um caminho auto destrutivo, e o jogo é um modo dele colocar nessa posição em que, ou ganha tudo, ou fica com nada".

Longe da pirotectia técnica de Planeta dos Macacos, Wyatt se revela um diretor sóbrio e em controle, disposto a arrancar o máximo de seu protagonista – o que teve um preço. Geralmente interpretando sujeitos fisicamente em forma, Wahlberg encarou uma dieta rigorosa, ressurgindo como uma sombra de sua persona pública mais saudável. "Mark é um parceiro inacreditável, é espantoso ver o quanto ele estava disposto a ir para habitar o personagem e contar a história", elogia Wyatt. "No fim, o que importa é a história. O mais importante em Planeta dos Macacos era o roteiro. No caso de O Apostador, o script de William Monahan (de Os Infiltrados) era sobre o que é necessário para alguém se tornar aquela pessoa. Mark entendeu e abraçou o conceito."

O diretor Rupert Wyatt discute uma cena com Mark Wahlberg

Elegante e envolvente, o único revés de O Apostador é mesmo a sombra da produção original. Enquanto o novo filme traz a jornada do protagonista a um encerramento de certa forma otimista, em The Gambler cometido por James Toback em 1974, o personagem interpretado por James Caan não demonstra nenhuma amarra moral ou limites éticos para saciar seu vício. Quando isso lhe custa sua integridade física, isso ainda é menos importante que a satisfacão de seus impulsos. É um filme mais cru e menos elegante, e talvez por isso as mudanças empreendidas por Monahan e Wyatt no texto deixem o novo O Apostador mais palatável, porém menos ousado e arrebatador.

Apesar da carreira financeira do filme não ter sido vitoriosa como o estúdio esperava, Rupert acredita que O Apostador é um sucesso em seus próprios termos. "Existe dois aspectos a se considerar, e o primeiro é que 95 por cento dos filmes produzidos pelos cinco grandes estúdios hoje são franquias", continua. "Então fazer um filme adulto, para adultos, dentro deste universo, é algo raro. Sempre há espaço para filmes conduzidos por personagens." Para o segundo triunfo de seu filme, ele cita A Primeira Noite de Um Homem como um espelho. "É possível pensar num futuro para o protagonista depois que a sessão termina", explica. "O filme é a jornada para a normalidade, as pessoas podem ter um recomeço, nada é tão preto e branco. Pode parecer enfadonho, mas o que importa são as pequenas vitórias."

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.