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Esquadrão Suicida e como Hollywood ainda não aprendeu a lidar com o futuro

Roberto Sadovski

13/07/2015 20h45

Interessante observar como o mundo hoje se move em velocidade supersônica… e Hollywood ainda não se deu conta. Caso em questão: o trailer de Esquadrão Suicida. A platéia no salão principal da Comic-Con de San Diego viu em primeira mão sábado passado, 11 de julho, as primeiras imagens da adaptação dos quadrinhos da DC dirigida por David Ayer. Algum(ns) maluco(s) gravou com um smartphone bem smart. Em seguida, o trailer já estava online, saltando de site em site à medida em que o estúdio tentava fazer controle de danos. "Era algo só para quem estava na Comic-Con, não estava pronto para atingir um público maior", bradou um engravatado do estúdio, logo antes de dizer que seria "muito difícil" levar cenas inéditas para o evento no futuro se a convenção não tivesse como fazer um controle melhor.

Tolinho.

Nem adiantou a grita. Afinal, hoje mais cedo a Warner liberou exatamente o mesmo trailer de Esquadrão Suicida para o mundo – o mesmo que "não estava pronto para um público maior". Será que este era o plano o tempo todo? Se não era, isso significa que os estúdios agora vão ter de ceder à pressão da turma que grava e disponibiliza material de eventos como a Comic-Con? Lição aprendida: é impossível frear o futuro. Mais impossível ainda é controlar a sede dos fãs por ver alguma coisa – qualquer coisa! – de filmes que, como o próprio Esquadrão, só chegam aos cinemas em mais de um ano. Mesmo com anos e anos de streaming, downloads ilegais, bootlegs, roteiros vazados, informações "secretas" pintando online, arte conceitual e toda engrenagem que envolve um filme de nicho encontrando seu caminho para a internet, estúdio insistem em acreditar que tem controle da coisa. Bom, não tem. No caso de eventos gigantes como a Comic-Con, existe duas alternativas de controle: liberar o material online com qualidade bacana logo após a revelação para a plateia que está lá (como a própria Warner fez com o segundo trailer de Batman Vs. Superman), ou simplesmente não mostrar nada.

A verdade é que a experiência de ir em uma San Diego Comic-Con da vida é exatamente isso: uma experiência. É para quem está a fim de dormir em filas (fala sério…), comer mal, gastar uma grana e, no fim, voltar para casa com o espírito nerd saciado por ter compartilhado momentos bacanas com seus pares. A marcha do futuro se encarregou de limar o caráter "vamos mostrar esse lance com exclusividade" que um dia a Con já teve. A festa deste ano, por sinal, foi magra em novidades, tornando-se um gigantesco evento de marketing para quem tinha produto em mãos. O que é ok, claro. Aos poucos os organizadores e os estúdios vão perceber que o ponto é outro – a quantidade de painéis liberados online logo após seu término em San Diego mostra que eles estão no caminho certo. A Fox parece ter aprendido a lição, já que o próprio Ryan Reynolds jogou em seu twitter que o trailer de Deadpool, o grande destaque da Comic-Con deste ano, será jogado online em três semanas, depois de um tapa nos efeitos especiais e com qualidade caprichada.

Margot Robbie como a Arlequina: alguém duvida que ela vai roubar o filme?

Finalmente, Esquadrão Suicida. Confesso que a ideia de seguir Batman Vs. Superman com um filme sobre super vilões como os "mocinhos" pareceu uma estratégia torta da Warner/DC, já que a ideia é criar um universo cinematográfico coeso, assim como a Marvel fez com maestria. Mas David Ayer (que fez o bom Corações de Ferro) parece ter acertado no tom e na caracterização dos personagens. O trailer é sombrio e explica de forma rápida e eficiente o que está em jogo. Nos gibis, o Esquadrão é a Força Tarefa X, uma equipe a serviço do governo montada por Amanda Waller (Viola Davis) com alguns criminosos casca-grossa. Se eles triunfarem em sua missão, tem a pena reduzida. Se morrerem, a perda não é grande. Se forem pegos ou abrirem o bico, o governo tem como negar sua participação. Will Smith, que faz o Pistoleiro, super à vontade em ser "mais um dos rapazes", entrega o jogo: "Nós somos o bode expiatório, uma espécie de esquadrão suicida". Vilões menos conhecidos, como o Capitão Bumerangue (Jai Courtney) e o Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbage), ganham uma caracterização correta. É inegável que, por este fiapo de material, Esquadrão Suicida é diferente de tudo que os "filmes de super-heróis" já mostraram no cinema – o que é ótimo.

Quem brilha de verdade, por sinal, é Margot Robbie. Em poucos segundos, fica claro que sua Arlequina tem tudo para roubar a cena. Criada para a série animada do Batman como a "namorada" do Coringa, e depois transportada para os gibis do Morcegão, ela é o complemento perfeito para a loucura do Palhaço do Crime – uma psiquiatra que se apaixona pelo paciente e mostra que as fissuras em sua mente já fragmentada só precisavam de um empurrão para abraçar a demência homicida de seu amado. Robbie, descoberta por Martin Scorsese em O Lobo de Wall Street, não parece disposta a perder a oportunidade em criar uma personagem icônica (para a alegria das cosplayers do universo) e dá a medida certa de sedução e perigo que conduz a Arlequina. Não atrapalha, claro, Jared Leto fechar o trailer como um Coringa perigoso, violento e (ainda bem) diferente do que já vimos antes com o personagem. Ainda tem muito chão até agosto do ano que vem, quando Esquadrão Suicida estreia. Mas David Ayer, ao que tudo indica, tem tudo sob controle.

Trailer de "Esquadrão Suicida" mostra novo Coringa

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.