Topo

Owen Wilson, o astro mais improvável do cinema, estreia em dose dupla

Roberto Sadovski

09/10/2015 07h04

Quando estava filmando Penetras Bons de Bico, Owen Wilson viu um cachorro desgarrado perto de uma locação. Como não podia deixar de ser, o animal passou a seguir o ator pelo set e terninou sendo adotado por Owen, que o batizou… Garcia! Eu ouvi essa história do próprio, enquanto Garcia dormia deitado em meus pés. Meses depois, Penetras fechava uma bilheteria de 210 milhões de dólares, a sexta maior de 2005 nos Estados Unidos.

Ainda assim, foi apenas mais um dia de trabalho para Owen Wilson. Apesar de ter seu nome associado a sucessos de bilheteria gigantes (245 milhões de dólares em Carros; 145 milhões por Marley & Eu; 250 milhões em Uma Noite no Museu), ter uma indicação ao Oscar no currículo (pelo roteiro de Os Excêntricos Tennenbaums, assinado com Wes Anderson) e equilibrar gêneros com habilidade, o ator nunca adquiriu status de "astro", no qual apenas seu nome na marquise é capaz de atrair multidões. Ainda assim, lá está ele, mantendo uma carreira sólida sem nunca ter de engalfinhar-se com a fama.

Owen Wilson com Pierce Brosnan e…. um esquilo…. em suas duas estreias no cinema por aqui

Uma carreira sólida e, diga-se, consistente. Ele chega agora com dois filmes em cartaz no Brasil. A comédia Um Amor a Cada Esquina é mais uma parceria com Jennifer Aniston, com quem ele dividiu am cena em Marley & Eu em 2008, e sob direção do veterano Peter Bogdanovich. É Owen sendo Owen, o sujeito com jeitão de cachorro que caiu da mudança, envolvido em um triângulo amoroso. Já o thriller de ação Horas de Desespero o coloca em outro registro, como o pai de família que precisa deixar o país para onde se mudou, agora em meio a uma revolução – seu único aliado é o espião inglês interpretado por Pierce Brosnan (é, bem meta a coisa).

Seu primeiro filme foi em 1996, ao lado de seu irmão, Luke, com Wes Anderson dirigindo o roteiro escrito a quatro mãos com Owen. Bottle Rocket (ou, se você preferir, o péssimo título nacional, Pura Adrenalina) abriu várias portas em Hollywood, e logo o ator deu as caras como coadjuvante em Anaconda (1997), Armageddon (1998) e A Casa Amaldiçoada (1999). O novo século trouxe também sua primeira oportunidade como protagonista, mesmo que fosse dividindo a cena com Jackie Chan no bacana Bater ou Correr. No mesmo ano, ele dividiu a cena com Ben Stiller (para quem havia feito uma ponta em O Pentelho, de 1996) na comédia Entrando Numa Fria, iniciando uma parceria que se estendeu por mais um punhado de filmes (Zoolander, Starsky & Hutch, Os Excêntricos Tenenbaums, mais dois Entrando Numa Fria e três Uma Noite no Museu).

Os Excêntricos Tenenbaums, pelo qual ele foi indicado ao Oscar de roteiro

Em mais de uma década, este texano de 46 anos conseguiu equilibrar diversos gêneros, fazendo com o mesmo entusiasmo filmes de ação (Atrás das Linhas Inimigas, de 2001, com Gene Hackman), comédias bobocas (Dois É Bom, Três é Demais em 2006; Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor em 2008; Passe Livre em 2011), e atuando sob a batuta de gênios como James L Brooks (Como Você Sabe, de 2010), Woody Allen (Meia-Noite em Paris, de 2011) e Paul Thomas Anderson (Vício Inerente, de 2014). Um currículo diverso, eclético e bem sucedido.

Mas nada fez com que Owen Wilson quebrasse a barreira que dá maior prestígio e visibilidade a, por exemplo, Ben Stiller. Ele de fato não segue o padrão do "astro de Hollywood". Seu nariz, quebrado duas vezes quando jogava futebol americano no colegial, o impede de ser um galã em tempo integral. Sua fama de encrenqueiro na juventude deu espaço a uma atitude mais introspectiva, que não lhe dá o aspecto agressivo de astros mais calejados, como os Cruise e Pitt da vida. Embora seja um ator em primeiro lugar, ele sempre hesitou em abraçar este papel, sempre se enxergando mais como roteirista (além de Bottle Rocket e Tennenbaums, também escreveu Três É Demais com Wes Anderson). É pai de duas crianças, com duas mulheres diferentes, e consegue manter sua vida pessoal longe dos holofotes.

Bater ou Correr, de 2000, foi seu primeiro filme como protagonista

Talvez a única vez em que seu nome tenha chegado nos tablóides foi durante as filmagens de Trovão Tropical, em que ele teria o papel do agente do ator interpretado por Ben Stiller. Em agosto de 2007, ele deu entrada no hospital em Los Angeles por conta de uma suposta tentativa de suicídio – seu empresário depois confirmou que o ator entava em tratamento para depressão. Matthew McConaughey ficou com seu papel, mas logo depois Wilson estava de volta à labuta, emendando trabalhos em cinema, emprestando sua voz a personagens animados (como o cachorro Marmaduke, no filme de 2010), jogos de videogame, curta-metragens e papéis em séries de TV. Mesmo com um segundo Zoolander no horizonte (ele e Stiller retomaram seus papeis de supermodelos em um desfile de verdade durante a semana de moda de Paris em março deste ano), o papel de astro continua sem grudar em Owen Wilson. Que, por sua vez, parece extremamente confortável como "o sujeito do nariz esquisito", de vida discreta e um punhado de grandes filmes no bolso.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Owen Wilson, o astro mais improvável do cinema, estreia em dose dupla - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.