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De atores a filme, Oscar 2016 premiou, de fato, os melhores

Roberto Sadovski

29/02/2016 03h26

Mark Rylance. Os roteiros. Alicia Vikander. Divertida Mente. Brie Larson. Toda a parte técnica de Mad Max. Spotlight. DiCaprio! O Oscar 2016 deixou a politicagem que muitas vezes rege sua premiação de lado e colocou o careca dourado nas mãos de quem de fato fez por merecer. Fazia tempo que eu não via uma cerimônia tão justa – e, talvez por isso, tão linear. Poucas surpresas, muitos acertos e uma celebração da qualidade. Afinal, a festa da Academia serve justamente para isso, certo?

Bom, quase. A cerimônia do Oscar foi realizada sob a sombra do #OscarSoWhite, o protesto que apontou a pouca diversidade entre os indicados. Mas o apresentador Chris Rock (e os produtores da festa) optaram não por fugir da questão, e sim abraçá-la. Muitas vezes com um humor que deixou seus colegas com medo de esboçar um sorriso – anos e anos de condicionamento do "politicamente correto" faz com que artistas, em sua maioria pra lá de liberais, não saibam em absoluto reagir a uma piada que cutuca alguma ferida.

Chris Rock não deu a mínima, não poupou os colegas que boicotaram o Oscar, foi às ruas para mostrar gente de verdade falando sobre a questão e contribuiu para que a festa corresse mais veloz, sem barrigas, sem cansar. Não que os discursos ficassem de fora. O diretor duplamente oscarizado Alejandro Iñárritu falou não só sobre a importância da diversidade, mas também sobre o quanto já passou da hora de isso deixar de ter importância. O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, apresentou a canção de Lady Gaga e lançou uma campanha contra a violência sexual. E Leo falou sobre a preservação da Terra de uma maneira que não foi discursiva ou doutrinadora, mas direta e honesta.

DiCaprio, por sinal, foi o grande vencedor da noite. Spotlight abriu e fechou a cerimônia garfando o Oscar de roteiro original e melhor filme; Mad Max: Estrada da Fúria passou a mão em praticamente todos os troféus técnicos, seis no total. Mas foi do astro o momento mais aguardado e bacana (ops, Glória…) da noite, quebrando uma série de indicações infrutíferas e sendo premiado como o grande ator que ele é. A verdade é que esse Oscar já devia ser dele desde O Lobo de Wall Street, mas sua vitória por O Regresso celebra um ator íntegro e inteligente, que navega pelo jogo de Hollywood como ninguém. Leo, afinal, nunca fez uma continuação de seus filmes, não molhou os dedos no mundo das "franquias" e ainda (veja bem, "ainda") não deu as caras em um filme de super-heróis. Ainda assim, consistentemente protagoniza filmes de qualidade artística e comercial, é eclético e sabe jogar em equipe.

O resto da festa aplaudiu a qualidade – o que deve ser louvado. Embora muitos fãs quisessem ver um momento histórico com Sylvester Stallone com um Oscar em mãos, é inegável a qualidade do trabalho de Mark Rylance em Ponte dos Espiões, que lhe deu a estatueta de ator coadjuvante. Alicia Vikander teve um ano brilhante, é a cara da Hollywood do futuro e mereceu o Oscar, nem que seja por ser a única luz genuína no fraquíssimo A Garota Dinamarquesa. Por sinal, nada melhor do que ver o péssimo Eddie Redmayne, injustamente premiado ano passado, sair de mãos abanando. O Regresso chegou com a força de doze indicações mas levou onde realmente se destacava: direção e fotografia, além de DiCaprio. Divertida Mente sempre foi o único candidato viável entre as animações, apesar da torcida ufanista (e movida apenas por boa vontade) para O Menino e o Mundo.

Por fim, um Oscar que começou sem grandes favoritos, quando seus indicados foram anunciados, terminou exatamente da mesma forma, salpicando prêmios sem apontar nenhum "grande vencedor" – nem em volume, nem em importância. No fim, a vitória talvez seja do bom senso. Hollywood festejou mas ouviu o recado – era óbvia a maior diversidade entre os apresentadores, o que deve ser refletido, para o bem da indústria, no próprio cinema. Muita gente chiou com as "piadas de mau gosto" e a "pouca importância" dada à bandeira levantada pelo #OscarSoWhite. Estão todos errados. O Oscar é uma celebração, e seus realizadores mostraram que entenderam o recado – demonstrando, claro à sua maneira. Mas a festa, apesar das bandeiras, ainda é do cinema. E este saiu vencedor.

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.