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Humor é fundamental: Será que a DC finalmente aprendeu a lição da Marvel?

Roberto Sadovski

23/07/2016 18h25

Batman faz uma piada (ou várias). O coronel Steve Trevor conhece a princesa Diana com uma frase engraçadinha. O Pistoleiro mantém o humor nervoso no lugar em Esquadrão Suicida. Em seu painel com o futuro da DC no cinema, o seu "universo expandido", a Warner revelou um trio de trailers para alguns milhares de fãs espremidos no Hall H da Comic-Con, em San Diego, e o recado ficou claro: o tom sóbrio, quase paródico, de Batman vs Superman foi um erro que não será repetido. Mulher Maravilha e Liga da Justiça ganharam previews carregados em ação e salpicados de humor, elemento até então ausente dos filmes da nova geração da DC no cinema. Esquadrão Suicida ganhou um trailer final, duas semanas antes de sua estreia, que serviu para pontuar que a equipe encara o perigo com um sorriso no canto do rosto. A plateia aprovou com furor. O acerto foi no alvo porque o alvo, afinal, é óbvio: a DC entregou a mesma mistura que a Marvel oferece desde que Homem de Ferro ganhou o evento em 2007.

Primeiro foi Mulher Maravilha. Em cerca de dois minutos, a diretora Patty Jenkins apresentou a guerreira amazona, sua jornada da ilha de Themyscira ao mundo exterior, a interação com o "patriarcado" e uma dose de ação nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. De cair o queixo, de brilhar os olhos, escolha aqui seu superlativo. De cara, Jenkin sabe dirigir ação! Melhor do que isso, ela entende que de nada adianta trazer os fogos de artifício sem envolvimento emocional, e em poucas linhas de texto Gal Gadot (perfeita, por sinal) mostra quem é a princesa Diana, uma mulher de extrema compaixão e absoluta ferocidade,seja com espada, seja com seu laço, seja encarando Trevor (Chris Pine) e disparando um "o que eu faço não depende de você". Tudo sem perder os pés no chão, sem deixar de humanizar os personagens. Para um primeiro trailer, é a prova de que Patty Jenkins e cia. estão no caminho certo.

Veja o 1º trailer do filme "Mulher Maravilha"

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Liga da Justiça, por outro lado, tem um problema maior, já que é continuação direta de Batman vs Superman, e compartilha o mesmo diretor, Zack Snyder. Mas Liga parece pertencer a outro universo: tem ação mas tem humor; personagens interagem, e não seguem o que dita o roteiro. E a coisa toda parece divertida! O teaser da Comic-Con não dá nenhuma pista do plot (que envolve artefatos alienígenas chamados Caixas Maternas, invasões alienígenas e, espera-se, a ressurreição do Superman), preferindo concentrar-se na jornada de Bruce Wayne, o Batman (Ben Affleck), para juntar a equipe ao lado da Mulher Maravilha. Duas coisas ficam óbvias. Ezra Miller, como o Flash, será o avatar do público mais jovem no filme: empolgado, acelerado (duh…), fascinado por este novo mundo. E o Aquaman de Jason Momoa será, neste universo, o equivalente de Thor, observando seus companheiros de um pedestal, batendo de frente com as figuras de autoridade (no caso o Batman) antes de aprender a brincar com os amiguinhos.

A verdade é que não dá para culpar algum executivo do estúdio por ditar o tom mais sóbrio para o universo DC. A "culpa" recai sobre Christopher Nolan, que em sua trilogia O Cavaleiro das Trevas retirou todos os elementos fantasiosos do Batman para fincá-lo, até onde pudesse, no mundo real. Era a proposta dos filmes com Christian Bale no papel do Homem-Morcego, mas era também óbvio que não funcionaria em outro contexto. Ter Christopher Nolan como produtor em O Homem de Aço fez sentido do ponto de vista comercial, mas foi desastroso em uma visão criativa: alguém como o Superman não funciona nos mundos criados por Nolan. Para piorar este panorama, os executivos do estúdio deixaram claro desde o começo que não seguiriam a "fórmula Marvel", e que os heróis da DC funcionavam melhor em um tom mais realista.

Veja o 1º trailer do filme "Liga da Justiça"

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O Homem de Aço não é um filme ruim, e eu defendo suas decisões artísticas como o marco zero que ele precisava ser. O mundo agora é habitado por criaturas capazes de destruí-lo com um espirro; a destruição de Metrópoles em seu clímax é o pior cenário deste poder quando não pode ser controlado. Construir um universo em cima dessa premissa era algo fascinante, que Batman vs Superman nunca conseguiu realizar. É o problema não só de tom, mas também de muitos chefs na cozinha. O filme quer ser tudo ao mesmo tempo. Usar como inspiração a graphic novel Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, já era tarefa complexa; misturar sua trama com "A Morte do Superman", um gibi que não poderia ter um tom mais diferente, foi um erro ginasial. O resultado é um filme milionário que, ainda assim, foi visto como um fracasso comercial e artístico.

Enquanto isso, a Marvel sambava em seu universo cinematográfico como uma brisa, construindo um legado, de Homem de Ferro a Capitão América: Guerra Civil, que o cinemão jamais havia arriscado antes. É a narrativa de quadrinhos transferida para o cinema com sucesso; são dezenas de molas independentes em uma engrenagem que, quando vistas em uníssono, parecem não ter uma emenda. Sem falar que a Marvel injetou um punhado de gêneros diferentes (filme de época, ópera espacial, ficção científica, thriller político, filme de roubo) sob um mesmo guarda-chuva. Deu a seus filmes narrativas sóbrias, carregou na emoção e,acima de tudo, o fez com humor.

Veja o trailer final de "Esquadrão Suicida"

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O que tem de ficar claro é que um filme divertido não é uma comédia, não é encher a tela de piadas. Mas é, no mínimo, entender que entretenimento é diversão, e que é pura falta de visão fazer um filme de super-heróis, talvez os maiores ícones  da história (Batman e Superman, jovens), e não se divertir com isso. O erro de ontem, enfim, é o acerto de hoje. Com sua nova "política" em mãos, demostrada por trailers que acertam em cheio, a DC parece que não tem mais pudor em emular a fórmula do concorrente. Super-heróis, sim, com o mundo em perigo, claro…. e com uma boa dose de humor para humanizar a coisa toda! Melhor assim. Quem ganha, no final, somos nós.

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.