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Do pior ao melhor, um ranking com todos os filmes de Steven Spielberg

Roberto Sadovski

29/07/2016 06h30

Steven Spielberg é um dos maiores cineastas da história. Ponto. Acho curioso como sempre surge o papo de que ele "está fora de sintonia" com o cinemão atual. Ou que seu nome "perdeu o apelo" para o público mais jovem. Besteira. Fazer cinema não é concurso de popularidade, e desafio qualquer um a encontrar uma obra tão vasta, variada e de altíssima qualidade quanto a de Spielberg. Nos últimos meses, eu me dei a tarefa de rever todos os seus filmes, de Encurralado a O Bom Gigante Amigo, e cheguei a duas conclusões. Primeiro, mesmo quando ele erra, o tropeço é em grande estilo. Segundo, é invejável seu total domínio de narrativa, seu desinteresse em seguir a moda da vez (não creio que veremos um filme de super-heróis com sua assinatura) e seu total compromisso com o aspecto mais importante no cinema: contar uma história. Organizei seus 30 filmes num ranking muito particular, do pior ao melhor, e foi uma das maratonas mais bacanas que eu já encarei. E você, qual seu Spielberg mais marcante? Hora de refrescar a memória…

30. 1941 – Uma Guerra Muito Louca (1941, 1979)

A tentativa de Spielberg em fazer uma comédia esbarra num pecado mortal: o filme nunca é engraçado. Ainda assim, transborda ambição, com a história da paranóia americana em ser invadidos pelos japoneses no alvorecer da Segunda Guerra Mundial. Um desastre elegante.

29. O Mundo Perdido: Jurassic Park (The Lost World: Jurassic Park, 1997)

Do primeiro ao último frame, fica óbvio que seu coração não estava no lugar quando fez a continuação de Jurassic Park, uma aventura esquemática que desafia a lógica (isso num filme sobre dinossauros voltando à vida!) e que envelheceu muito, muito mal.

28. Hook – A Volta do Capitão Gancho (Hook, 1991)

Talvez Hook, e sua desconstrução de um clássico, estivesse à frente do seu tempo. Tão à frente que a tecnologia não acompanhou sua ambição, resultando no embate de Robin Williams (Peter Pan) e Dustin Hoffman 9 Capitão Gancho) num cenário desastrosamente artificial.

27. O Terminal (The Terminal, 2004)

Tom Hanks dá seu melhor no papel de um visitante estrangeiro que, devido a uma crise política e à burocracia, fica preso no terminal do aeroporto de Nova York, sem ter uma casa para retornar e sem poder colocar os pés na América. Mas, falando a real, é um filme muito chato.

26. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008)

O mais desolador dos escorregões de Spielberg, a aventura mais recente de Indiana Jones não sabe ao certo o que pretende ser (uma despedida, um recomeço, um pouco de cada), e trafega entre a ficção científica e o drama familiar de forma atravessada. Burocrático, ainda que, em seu coração, seja Indiana Jones…

25. Além da Eternidade (Always, 1989)

Audrey Hepburn, Always (1989, Steven Spielberg) starring Holly Hunter, Richard Dreyfuss and John Goodman

Richard Dreyfuss é o fantasminha camarada que, no além-vida, tem a função de guiar um piloto novato – que calha de ser o novo interesse romântico de sua amada (Holly Hunter). Apesar das sequências aéreas nunca menos que espetaculares, o romance nunca engata.

24. Cavalo de Guerra (War Horse, 2011)

Plasticamente de tirar o fôlego, a versão para cinema do espetáculo teatral triunfa ao colocar uma saga nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial no ponto de vista de um cavalo, que passa de dono em dono ao mesmo tempo em que mergulha no horror da guerra. Um Spielberg no automático, mas ainda emocionante.

23. Louca Escapada (The Sugarland Express, 1974)

Seu primeiro longa para o cinema propriamente dito é um filme de transição, que mantém um pé na experimentação que marcou a década de 70 e seu respeito pelos autores, ao mesmo tempo que já evidencia a mão para o espetáculo populista que o cineasta logo ia aperfeiçoar. E Goldie Hawn nunca esteve tão adorável!

22. Amistad (1997)

Baseado em fatos reais, Spielberg não poupou o melodrama neste filme de tribunal em que, no século 19, um grupo de escravos luta pela liberdade após matar seus algozes em um navio. Matthew McConaughey parece deslocado como o advogado de defesa, mas o espetáculo é todo de Djimon Hounsou. Merece ser redescoberto.

21. Encurralado (Duel, 1971)

Pela primeira vez no comando de um longa, Spielberg fez um estudo sobre medo, paranóia e descontrole. O plot é tão eficiente quanto simples: um sujeito comum (Dennis Weaver) é perseguido na estrada por um caminhão assassino. Nunca vemos seu motorista, mas ali está o mal encarnado. Tenso de ponta a ponta, é uma estreia irretocável

20. Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, 1984)

Sombrio e violento, o segundo filme com o arqueólogo Indiana Jones sofre de um certo artificialismo, mas traz tantos momentos memoráveis que é fácil deixar de lado sua total incorreção política. Para Spielberg, deve ser seu trabalho mais importante: foi ali que ele conheceu sua atual mulher, a atriz Kate Capshaw.

19. A Cor Púrpura (The Color Purple, 1985)

Em sua primeira tentativa de sair do molde "cineasta pop", Spielberg adaptou o romance de Alice Walker e foi criticado por ter exagerado na sacarina. Uma bobagem. A história de uma mulher sulista e negra (Whoopi Goldberg, em sua estreia) em sua jornada para a auto descoberta merece cada lágrima.

18. O Bom Gigante Amigo (The BFG, 2016)

A fábula infantil, ausente de sua filmografia desde os anos 80, volta nesta adaptação do livro de Roald Dahl: um filme sobre a dificuldade em lidar com o mundo adulto, literal e mataforicamente. Apesar de um segundo ato arrastado, a aventura começa e termina de maneira brilhante, ancorada por duas performances (de Mark Rylance e da pequena Ruby Barnhill) de aplaudir de pé.

17. A.I. – Inteligência Artificial (A.I. – Artificial Intelligence, 2001)

Spielberg se colocou sob o holofote ao retomar um projeto de seu amigo Stanley Kubrick. Em um futuro em que humanos dividem o planeta com máquinas inteligentes, um menino-robô (Haley Joel Osment) ganha sentimentos verdadeiros e diminui a barreira entre a vida artificial e as emoções reais. O final traz uma fagulha de esperança ao que, no geral, é um de seus filmes mais pessimistas.

16. As Aventuras de Tintin (The Adventures of Tintin, 2011)

Ao contrário de seus amigos James Cameron, Peter Jackson e Robert Zemeckis, Spielberg nunca foi um cineasta explicitamente preocupado com a mecânica do cinema: ele quer contar histórias. Talvez por isso, a adaptação do herói dos quadrinhos do belga Hergé não surja como um "melhores momentos" de como usar a tecnologia de captura de movimentos. É, isso sim, uma aventura descomprimissada e de encher os olhos!

15. Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015)

Só mesmo um cineasta de tamanho talento é capaz de fazer um thriller de espionagem ancorado em diálogos, não em ação. É justamente essa a espinha dorsal da história do advogado (Tom Hanks) que, no auge da Guerra Fria, tem de defender um espião da cortina de ferro (Mark Rylance) capturado em solo americano. Tenso de ponta a ponta, mostra um cineasta enxuto e direto ao ponto. Um filmaço.

14. Império do Sol (Empire of the Sun, 1987)

Depois de A Cor Púrpura, Spielberg se sentiu mais à vontade para contar a história do garoto inglês (Christian Bale, já uma potência) que sobrevive na China ocupada pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Baseado na autobiografia de J.G. Ballard, o filme traz um diretor mais seguro em suas emoções e mais detalhista com a história em mãos, nunca deixando de lado o foco, que é o triunfo do espírito humano em meio ao caos.

13. Guerra dos Mundos (War of the Worlds, 2005)

Talvez a resposta artística mais pungente ao 11 de setembro, Spielberg refilmou o clássico da ficção científica sob o ponto de vista do homem comum (Tom Cruise) que vê o mundo normal ruir quando a Terra é invadida por alienígenas assassinos. Tecnicamente de tirar o fôlego, é um filme sobre famílias, sobre desespero e sobre o acaso. A expressão de Cruise ao ser coberto pelo pó do que eram seres humanos é puro terror.

12. Munique (Munich, 2005)

A sombra do 11 de setembro também permeia este relato sobre a caçada promovida pelo governo de Israel aos assassinos dos atletas judeus na Olimpíada de Munique em 1972. O foco está nos cinco homens escolhidos para a tarefa, e o modo como eles encaram a missão. Principalmente o personagem de Eric Bana, que não age por vingança, mas questionando sempre seus valores: o que sobra da alma de um assassino de assassinos? Não há resposta…

11. Prenda-me Se For Capaz (Catch Me If You Can, 2002)

Delicioso de ponta a ponta, a história do golpista Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio), e sua perseguição de anos por um agente do FBI (Tom Hanks), flui como um desenho do Pernalonga, com humor, ironia e empolgação genuínas. De tão bacana e alto astral, poderia ter doze horas sem pesar – até, claro, Christopher Walken entrar em cena, trazer tudo de volta à realidade e destruir nossos corações.

10. Lincoln (2012)

Daniel Day-Lewis entrega sua performance mais poderosa – o que, convenhamos, não é pouco. Spielberg não quer aqui criar uma biografia completa do maior dos presidentes americanos. Em vez disso, ele escolhe um recorte, o suficiente para mostrar o colosso moral que era Lincoln e sua luta contra a escravidão, um conflito determinado pelo campo de batalha da Guerra Civil e também entre políticos – um cenário ainda mais traiçoeiro.

9. Minority Report – A Nova Lei (Minority Report, 2002)

Engraçado como o futuro apresentado por Spielberg nesta ficção científica se torna cada vez mais parecido com o presente. Principalmente em sua premissa central: a prisão de criminosos antes que eles cometam o crime. É função do policial interpretado por Tom Cruise lidar com essa tecnologia, e tudo muda quando ele próprio se vê no banco dos réus. Um filme aparentemente leve que traz, nas entrelinhas, questões fundamentais para nossa liberdade.

8. Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989)

Vamos ao superlativo: este é o filme mais divertido que Spielberg fez em toda sua carreira. Qual outro motivo para escalar Sean Connery como pai de Harrison Ford a não ser "isso pode ser muito bacana"? E é. A terceira aventura de Indiana Jones o coloca contra nazistas, em busca de um tesouro arqueológico sem preço, tem muita ação, uma dose de misticismo, um roteiro esperto e muito bom humor. Isso, meus caros, é entretenimento!

7. Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind, 1977)

Talvez o Spielberg de hoje não tomasse as mesmas decisões do Spielberg de quatro décadas atrás, quando ele fez um homem abandonar sua família em busca de uma visão. Ainda bem. No filme que ajudou a acabar com a imagem de aliens como conquistadores sangrentos, o diretor faz um filme sobre o poder dos sonhos, e como eles caminham numa linha tênue com a obsessão. Ao final, não são os sonhos que nos fazem caminhar?

6. Jurassic Park – Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1993)

A ciência como herói e vilão: é o caminho para realizar as maiores ambições humanss, ao mesmo tempo em que torna fácil perder o controle sobre elas. Tudo isso numa premissa genial: o que aconteceria se pudéssemos recriar os dinossauros, confiná-los num parque temático e ver o resultado? Icônico do começo ao fim, ainda traz, no ataque do T-Rex, uma das cenas mais memoráveis de toda a história do cinema.

5. E.T. – O Extraterrestre (E.T., 1982)

O filme que virou um dos maiores fenômenos pop do cinema é também uma fábula sobre a infância perdida. Tudo está nas entrelinhas da história de Elliot (Henry Thomas), o garoto de uma cidadezinha no coração da América que se torna amigo de um visitante alienígena, esquecido aqui por seus companheiros. Tudo em E.T. é metáfora para algo maior, e o fato de Spielberg ter feito tudo parecer tão fácil é o componente principal de uma obra prima.

4. O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998)

A guerra sem firulas, sem nobreza, sem romantismo: apenas como horror, como perda de humanidade, como chance para descobrir do que são feitos os homens. No caso, o oficial do exército interpretado por Tom Hakns, que lidera um grupo no coração da Europa em ruínas para localizar um único soldado. Não é sobre camaradagem (mas é), não é sobre quem a guerra nos torna (mas é): é sobre a missão, é sobre voltar para casa.

3. A Lista de Schindler (Schindler's List, 1993)

Em seu filme mais importante (sem aspas, sem ironia), Spielberg foi de encontro a suas origens e desnudou a trajetória de um homem que, em meio ao caos e ao horror, encontrou o caminho para fazer a coisa certa. De que forma, afinal, reencontrar a humanidade quando ela se torna uma casca vazia? A Lista de Schindler é um filme para a gente não esquecer que, mesmo quando o mundo desde pelo ralo, nossa atitude faz toda a diferença.

2. Tubarão (Jaws, 1975)

O filme perfeito. Em narrativa, em tom, em seu total domínio de técnica, forma, ritmo. Imitado à exaustão e jamais igualado, Tubarão fez história de tantas maneiras que às vezes fica difícil lembrar o quanto ele é brilhante, o quanto Spielberg, ainda em seus primeiros passos, já se mostra um cineasta completo, criando tamanha beleza em meio a uma das filmagens mais complicadas da história. Só não é o primeiro dessa lista por que….

1. Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981)

… existe algo em Os Caçadores da Arca Perdida que faz dele o melhor filme que Steven Spielberg já dirigiu. Cada frame é icônico. Cada decisão narrativa é essencial. Cada performance é precisa. Foi o filme que, ao lado de Superman e Guerra nas Estrelas, acendeu minha paixão pela arte de contar histórias. Não existe um elemento fora do lugar, não existe um segundo que seja excessivo. Existe, acima de tudo, o ingrediente indizível, indefinido, que eleva a primeira aventura de Indiana Jones ao patamar de obra prima irretocável, uma qualidade atemporal que faz do filme um fenômeno inexplicável, mas totalmente compreensível. Tire um pedaço e ele quebraria; do jeito que está, em seu equilíbrio perfeito, Os Caçadores da Arca Perdida é Spielberg em seu melhor. É o cinema em seu melhor. Agora dá licença que eu tenho um ou trinta filmes para rever…

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.