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Estes são os filmes que com certeza vão ganhar o Oscar (e pode me cobrar depois)

Roberto Sadovski

22/02/2017 02h03

Existe uma certa mística em torno dos filmes que ganham os "cinco grandes" no Oscar. Ou seja, quem leva as estatuietas de melhor filme, direção, ator, atriz e roteiro. Até hoje, só três filmes conseguiram tal feito: Aconteceu Naquela Noite, Um Estranho no Ninho e O Silêncio dos Inocentes. La La Land tem musculatura para (re)fazer história na noite da cerimônia, que acontece em Los Angeles próximo dia 26. O principal está no lugar: tem indicações nessas categorias – e nove extras. Mas, meninos e meninas, não será desta vez. O "big five" vai ficar para o futuro. Mesmo assim, não se engane. La La Land é o grande filme da edição 2017 do maior prêmio do cinema mundial, e vai sair do Dolby Theater abarrotado de carecas dourados.

Vamos fazer uma conta rápida? Filme e direção, pode ter certeza que La La Land leva. Na parte técnica, será difícil alguma outra produção lhe tirar fotografia (Silêncio assusta, mas não leva), montagem (eu acho incrível a estrutura de A Chegada, mas não leva), desenho de produção (pode argumentar que Animais Fantásticos e Onde Habitam mistura bem filme de época e fantasia, mas não leva) e o combo trilha sonora (nenhum outro indicado arranha a lataria) e canção (estou assobiando "City of Stars" desde que vi o filme pela primeira vez, ainda ano passado). Por falar em ouvidos, ainda é provável que o drama de guerra de Mel Gibson, Até o Último Homem, embolse os prémios de edição de som (a criação de tudo que você ouve no filme que não é real) e mixagem de som (como todos os elementos se equilibram). Mas eu vou quebrar a perna aqui e apontar os dois também para o filme de Damien Chazelle. Ah, e Emma Stone será agraciada como melhor atriz. Natalie Portman arrebenta em Jackie, Isabelle Hupert é minha favorita de longe por Elle, e onde diabos está Amy Adams por A Chegada? Mas a noite é de Emma – merecidamente!

Mahershala Ali em Moonlight

Até semana passada, Casey Affleck era a aposta mais do que certa para atuação por seu trabalho brilhante em Manchester à Beira Mar. Mas o Oscar é, acima de tudo, política, e Affleck não é o sujeito mais simpático (ou mais empático) a concorrer ao prêmio. Somado às acusações de sexismo e assédio que pairam sobre ele, é possível que a Academia volte seu olhar para Denzel Washington, que faz um trabalho sólido em Um Limite Entre Nós e já levou o prêmio do sindicato de atores. Se ele levar – e ele vai! –, será seu terceiro Oscar de atuação, igualando-se a Daniel Day Lewis, Jack Nicholson e Walter Brennan (entre os atores, crianças; entre atrizes, Meryl Streep e Ingrid Bergman também tem três cada, e Katharine Hepburn dá uma rasteira em todos, já que tem quatro estatuetas).

Já a corrida entre os coadjuvantes parece figurinhas marcadas desde sempre. Mahershala Ali (o vilão da série do Netflix Luke Cage) leva o Oscar como ator por seu trabalho delicado em Moonlight. Como um traficante que se torna figura paterna e modelo a ser seguido por um garoto que vive no gueto em Miami, ele equilibra um senso de perigo com um certo conformismo, mesmo que transpareça sempre uma muralha – ou quase, já que ele é desmontado em um diálogo arrasador. Dev Patel, charmoso como nunca, é a única ameaça por Lion, mas o ano é de Ali. O mesmo pode ser dito sobre Viola Davis, em sua terceira indicação em nove anos, desta vez por um papel que já lhe rendeu um Tony quando ela o interpretou no teatro em Um Limite Entre Nós: o de uma dona de casa que entra em choque com o marido (Denzel Washington), em meio a tensões raciais nos anos 50. Octavia Spencer podia fazer bonito, mas ela se perde no dominó que é Estrelas Além do Tempo; Naomi Harris seria uma alternativa como a mãe viciada em crack do protagonista de Moonlight; mas é a hora e a vez de Viola Davis.

Denzel Washington e Viola Davis em Um Limite Entre Nós

O roteiro de A Chegada, adaptado de um conto de ficção científica, resolve muito bem o quebra-cabeças gramatical armado na história no papel – e seria bacana ver uma ficção científica levando um careca aqui. O texto de Lion também ganhou escopo quando transposto ao cinema: a ação no livro do qual ele é adaptado basicamente se resume ao protagonista analisar mapas, rotas de trem e estatísticas. Apesar da polêmica (ele chegou a vencer como roteiro original em outras premiações), o Oscar de roteiro adaptado vai para o script de Moonlight, adaptado de uma peça autobiográfica de Tarell Alvin McCraney pelo próprio e pelo diretor Barry Jenkins, usa com inteligência uma estrutura de três atos e é o grande trunfo do filme – que é ótimo, mas supervalorizado. La La Land podia fácil somar mais um prêmio pelo roteiro original charmoso e agridoce. A narrativa robusta e sem gordura do western moderno A Qualquer Custo (filmaço, veja tipo hoje!) seria uma bela vitória. Mas Manchester à Beira-Mar, com seu roteiro multifacetado, surpreendente, inteligente e devastador, vai garantir que o dramaturgo Kenneth Lonergan – também diretor do filme – não vá para casa de mãos vazias.

O Oscar para a melhor animação meio que já estava definido há cerca de um ano, quando Zootopia chegou aos cinemas. Minha Vida de Abobrinha é bacana. Kubo e a Espada Mágica é um arraso! A Tartaruga Vermelha pode mesmo surpreender. Mas a aventura com tintas de crítica social pesada, disfarçada de thriller policial com animais antropomorfizados, é um dos grandes filmes do ano passado, ponto final. Já na categoria de filme estrangeiro, eu darei meu último suspiro sem entender como A Criada (que sequer chegou a ser indicado pela Coréia do Sul!) e Elle (que também entrou em meu Top 5 de 2016) não estão concorrendo. Enfim. O favorito até anteontem era o alemão Toni Erdmann, anabolizado com a notícia de que será refilmado com Jack Nicholson à frente. Mas o iraniano O Apartamento cresceu absurdos por a) ser um ótimo filme do diretor Asghar Farhadi (vencedor cinco anos atrás por A Separação) e b) pelo próprio Farhadi anunciar que não irá à festa em protesto contra a proibição da entrada em solo americano de cidadãos de sete países, entre eles o Irã, instaurada pelo presidente Donald Trump (e derrubada pela justiça desde então). Será, não tenha dúvida, uma decisão política.

O Apartamento, de Asghar Farhadi

Por falar em política, um dos grandes vitoriosos do Oscar 2017 não é um filme, um técnico ou um ator: é a diversidade. Depois da polêmica do "Oscar Tão Branco" ano passado, os estúdios se apressaram em fazer filmes mais plurais, sem esquecer a qualidade. Os indicados a melhor documentário mostrar bem esse momento, com Eu Não Sou Seu NegroA 13ª Emenda sendo tematicamente complementares, e o Oscar indo para o espetacular – e, com quase oito horas de projeção, um desafio – O.J.: Made in America. A diversidade também bateu na galáxia muito, muito distante em Rogue One – que vai perder o prémio de efeitos visuais para Mogli: O Menino-Lobo, que construiu um mundo de fantasia visualmente acachapante. Star Trek Sem Fronteiras vai celebrar 50 anos da série de ficção científica com o Oscar de melhor maquiagem. E Jackie, com um recorte histórico belíssimo, ancorado pela performance de Natalie Portman, fica com a estatueta de melhor figurino. Com a festa virando a esquina, eu não vi os indicados a curta de animação, curta-metragem ou documentário curta porque a vida (duh) é curta. Mas aí ao menos preservamos uma lasca de suspense, certo?

Fazendo as contas, estamos mais ou menos assim:

La La Land: 10 Oscar

Moonlight e Um Limite Entre Nós: 2 Oscar

Manchester à Beira-Mar, Zootopia, O Apartamento, O.J.: Made in America, Star Trek Sem Fronteiras, Mogli: O Menino-Lobo e Jackie: 1 Oscar

Por sinal, meu desafio na noite de domingo será tomar uma dose de pinga (eita, Brasil!) sempre que o nome de Donald Trump for mencionado na cerimônia. Alguma dúvida que terminarei minha noite totalmente embriagado?

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.