Depois do fracasso de Liga da Justiça, DC tem um novo chefe no cinema
Roberto Sadovski
06/01/2018 06h09
Liga da Justiça terminou sua carreira nos cinemas com 651 milhões de dólares em caixa. É o número mais baixo entre os filmes do Universo Estendido DC e um grande revés nos planos do estúdio em competir com a Marvel pela supremacia dos super-heróis no cinema. Fracassos geram consequências. Neste caso, a DC Films agora tem um novo executivo para aprumar o barco. No lugar de Jon Berg (que foi tocar seus próprios projetos) e Geoff Johns (este permanece como presidente do braço dos quadrinhos da DC, mas sem poder de decisão nos filmes), entra Walter Hamada, que foi executivo na New Line e ajudou na concepção e desenvolvimento de sucessos de terror como Invocação do Mal e It: A Coisa. Não é por acaso que ele é próximo ao diretor James Wan, arquiteto do "universo Invocação do Mal", que atualmente está trabalhando em Aquaman.
A palavra que resume o sentimento da Warner/DC com seus esforços para alavancar uma série de filmes interligados é uma só: frustração. O Homem de Aço pode ter sido um início torto, mas ao menos era honesto em sua interpretação do Superman. Os atropelos em sequencia de Batman vs Superman e Esquadrão Suicida, porém, deixaram fãs e críticos abismados com sua falta de qualidade. Mulher-Maravilha promoveu um respiro bem vindo, mas Liga da Justiça foi uma pá de cal inoportuna. A resposta pífia fez com que o estúdio revesse toda sua programação, e essa dança das cadeiras reflete a vontade em colocar um executivo mais habilidoso e calejado para continuar os planos. O trabalho de Hamada será não só supervisionar a correção de curso do Universo Estendido, como também produzir outros filmes adaptados de histórias em quadrinhos que fujam do cânone da DC.
Invocação do Mal foi um dos sucessos supervisionados por Walter Hamada
De resto, é respirar fundo. 2018 será um ano para o estúdio reavaliar suas opções e, talvez, tratar seus personagens com o respeito que eles merecem. Depois de tantos tropeços, a DC Films pisou no freio e passará quase o ano inteiro fora do olhar do público, tendo Aquaman como único lançamento, programado para dezembro. O movimento só tem vantagens: afasta o épico submarino com Jason Momoa do gosto amargo deixado por Liga da Justiça e dá a James Wan tempo para concretizar sua visão, sem a interferência de uma cronologia que já nasceu torta. Ao contrário de Mulher-Maravilha, ambientado na Primeira Guerra Mundial, Aquaman será uma aventura contemporânea, e pode ser uma boa oportunidade para a DC rever sua estratégia. Depois dele, só Shazam! encontra-se em produção, com Mulher-Maravilha 2 aparando as arestas para sair do papel no fim de 2019 com Gal Gadot à frente e Patty Jenkins mais uma vez na direção.
Esse hiato também serve como alívio para os fãs de verdade dos personagens da editora, que viram seus ídolos levar surra após surra da concorrência não só na qualidade de seus filmes, mas também em números. Provavelmente o único lugar do planeta em que Liga da Justiça se tornou um sucesso foi no Brasil, onde a aventura é o recordista de bilheterias do estúdio. Vai entender. Minha teoria é que a memória afetiva da animação Superamigos por aqui é mais recente, criando uma identificação mais imediata e fazendo com que a plateia busque essa conexão com a infância. Já nos Estados Unidos, os fãs mais radicais não se cansam de chutar cachorro morto, exigindo que o estúdio disponibilize uma suposta versão de Zack Snyder do filme, antes das reconfigurações escritas e dirigidas por Joss Whedon. A possibilidade é sólida, mesmo que eu não acredite que vá melhorar a qualidade de Liga.
Já os fãs mais sensatos esperam a gestão de Walter Hamada com os dedos cruzados. Nos quadrinhos, a DC se tornou notória por seus constantes reboots e reimaginações, ao ponto de eles se tornarem parte do DNA das histórias. A mesma fórmula poderia ser aplicada no cinema, com o estúdio passando a régua e ignorando tudo que veio antes (ou quase, já que Mulher-Maravilha não possui nenhuma conexão real com os outros filmes) para recomeçar do zero. The Batman, que Matt Reeves ainda está desenvolvendo, poderia ser um ponto de partida interessante. Admitir que perdeu o jogo para a Marvel no cinema não seria nenhuma vergonha. Walter Hamada tem nas mãos a chance de reavaliar o vasto catálogo da DC nos quadrinhos e virar a mesa. Basta seguir um conselho vindo justamente da concorrência: em uma entrevista recente para a Vanity Fair, o arquiteto do Universo Cinematográfico Marvel, o produtor Kevin Feige, disse que o segredo é dar um passo de cada vez. "O importante é se preocupar com o filme, não com o universo", disse, com a sabedoria de quem acerta há uma década. "Em caso de dúvidas, é só voltar aos quadrinhos. As respostas estão todas lá."
Sobre o autor
Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".
Sobre o blog
Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.