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Com Pantera Negra reinando supremo, é hora de conhecer suas melhores HQs

Roberto Sadovski

26/02/2018 04h37

História real. Estava eu saindo da pré-estreia de Pantera Negra, o estúdio armou um trono de Wakanda para o pessoal tirar fotos, rapaziada fazendo fila. Eis que senta um garoto, não mais que 11, 12 anos, negro, mascarado como o herói. Ele senta ao trono, mal consegue se conter, seu pai puxa o celular para fazer uma foto. "Ele curtiu o filme?", pergunto. "Ele mal conseguia se conter", responde o pai, voz trêmula. "Ficava sussurrando pra mim que queria ser rei quando crescesse, igualzinho a T'Challa." Todas as teorias, expectativas, discussões sobre diversidade e representatividade em torno do filme terminavam, para mim, naquele momento: Pantera Negra não era mais um pedaço de entretenimento, e sim um fenômeno mundial que vai além de suas barreiras em celuloide.

Mas não precisa tomar minha palavra para isso. Hoje, com dez dias em cartaz, a aventura dirigira por Ryan Coogler já bate em 700 milhões de dólares em caixa, um fenômeno que o coloca a caminho do clube do bilhão e prestes a se tornar uma das maiores bilheterias de todos os tempos. Pantera Negra aproveitou para estraçalhar alguns paradigmas, como o sucesso limitado de um filme protagonizado por um elenco predominantemente afro-descendente e o público que uma produção assim atingiria. Números não mentem: pesquisas nos cinemas ianques colocam a plateia do filme distribuída quase que homogeneamente entre afro-descendentes, caucasianos e hispânicos. Ou seja: todo mundo abraçou o mundo de Wakanda!

Snoop Dogg em uma sessão privada para crianças e adolescentes afro descendentes

Foram dez dias intensos, por sinal. Poucas vezes vi um candidato a blockbuster despertar tantas discussões sobre política, sobre raça, sobre os efeitos do colonialismo, sobre feminismo, sobre a própria natureza e importância do "cinema pipoca". Nunca vi, também, tantas sessões especiais (inclusive no Brasil) para crianças e adolescentes sem recursos para ir ao cinema, promovidas tanto por associações que promovem a diversidade como por celebridades, como Octavia Spencer, Serena Williams e Snoop Dogg, que viram uma oportunidade única de mostrar a jovens sem privilégios sua cultura representada de forma fantástica no cinema. É um momento incrível para a cultura pop, que nem aquela turma da mente encolhida, que se apavora sempre que surge algo para chacoalhar o status quo, consegue atrapalhar. Se o sucesso de Pantera Negra os incomoda, tanto melhor! Do ponto de vista de alguém que, como eu, trabalha neste meio maluco, só resta adivinhar o tamanho que terá Vingadores: Guerra Infinita, com Wakanda e T'Challa em destaque.

Além de ver o filme mais uma pá de vezes nesses dias, aproveitei para tirar o pó de uma gibizeira antiga e resgatar as melhores histórias em quadrinhos com o Pantera Negra. Às vezes ele brilha em seu título solo, outras dividindo espaço com outros heróis da Marvel. O que pude observar passando os olhos em tramas tecidas desde a década de 60 é que o regente de Wakanda sempre foi um herói político, sempre foi um estrategista feroz e sempre colocou seu povo em primeiro lugar, não importa o custo. Para conhecer melhor a evolução de T'Challa, separei aqui seus cinco grandes momentos nos gibis, em ordem cronológica. Boa caçada e boa leitura!

"O Pantera Negra!"
Fantastic Four #52-53, 1966, por Stan Lee e Jack Kirby

O produtor da Marvel no cinema, Kevin Feige, tem um mantra: "Em caso de dúvida, é só voltar para os gibis". Nada poderia ser mais verdadeiro do que a estreia do herói, nas páginas de Quarteto Fantástico, com o time mágico de Lee e Kirby. Era 1966 e a dupla criou um personagem africano, rei de um país super tecnológico em meio à selva, que em nenhum momento surge como alguém inferior aos heróis da aventura. Muitas histórias dessa época podem até parecer datadas mas, como tudo que Lee e Kirby colocaram a mão, a estreia do Pantera Negra parece atual como nunca.

"A Fúria do Pantera"
Jungle Action 6-18, 1973, por Don McGregor, Rick Buckler, Gil Kane e Billy Graham

Depois de passear em outros título, mais notadamente Quarteto Fantástico e Os Vingadores, o roteirista Don McGregor trouxe T'Challa de volta a Wakanda para estabelecer sua identidade como herói sem depender de nenhum outro. Este arco inteiro coloca o foco no Pantera e em sua terra natal, em uma trama que já fugia da ação dos quadrinhos de super-heróis tradicionais (acredite, entretanto, que ação não está em falta aqui), concentrando-se no dever de um rei para com seu povo e seu conflito em realizar suas próprias vontades. Sem falar que as sementes do filme são plantadas aqui, ainda em 1972, com o surgimento de Eric Killmonger e a dúvida sobre quem seria o verdadeiro regente de Wakanda.

"O Cliente"
Black Panther (Vol. 3) 1-5, 1998, por Christopher Priest, Mark Texeira e Vince Evans

Christopher Priest foi provavelmente o roteirista que melhor entendeu as engrenagens que faziam o Pantera Negra funcionar, e foi seu escriba por mais de sessenta edições. Aqui foi o ponto de partida, uma aventura que apresentou novos personagens, sendo o principal o agente do governo americano Everett Ross, que serve como avatar do leitor em uma trama de ação e política, com Wakanda sob a ameaça de um golpe de estado e T'Challa sendo, como nunca, misterioso e estrategista. Outra criação de Priest? As Dora Milaje, guarda-costas do rei, que ressurgem em toda sua glória na versão para cinema de suas aventuras.

"Quem É o Pantera Negra?"
Black Panther (Vol. 4) 1-6, 2005, por Reginald Hudlin, John Romita Jr. e Klaus Janson

O cineasta Reginald Hudlin assumiu o novo título do Pantera e recontou sua origem, traçando um paralelo de ações contemporâneas com as primeiras tentativas do mundo ocidental em invadir Wakanda, ainda na Segunda Guerra Mundial. Se você acha que o Pantera Negra arregou para o Capitão América, pensou errado…! errr…. ok. O estilo de Hudlin, apesar do viés político e da intenção em deixar o herói mais urbano, talvez seja sua encarnação que melhor se encaixe no conceito tradicional de "super-herói", o que ganhou um auxílio luxuoso de primeira com a arte espetacular de Romita Jr. Se você nunca leu um gibi do Pantera sequer, este é um ótimo ponto de partida.

"Uma Nação Sob Nossos Pés"
Black Panther (Vol. 6) 1-12, 2016, Ta-Nehise Coates e Brian Stelfreeze

E chegamos na série atual do rei de Wakanda, depois de o Pantera Negra ter papel fundamental em grandes crossovers do Universo Marvel, mais notadamente Invasão Secreta e Guerras Secretas. Ta-Nehise Coates, premiado escritor afro-americano, assumiu o novo título e foi ainda mais fundo nas implicações políticas e sócio-econômicas da existência de Wakanda. Em suas mãos, as aventuras do herói ganharam um design moderno, e seus coadjuvantes ainda mais musculatura, com a série sendo usada para discutir isolacionismo, história e o legado que um herói africano como o Pantera Negra pode deixar ao mundo – isso sem nunca deixar de lado o deslumbramento com a ação e a aventura.

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.