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Minha Lois Lane se foi: Margot Kidder, de Superman, morre aos 69 anos

Roberto Sadovski

14/05/2018 17h37

Não foi difícil me apaixonar por Lois Lane. Eu tinha 5 anos quando assisti a Superman – O Filme, e o impacto foi total. A paixão por super-heróis. O fascínio pelo cinema. O entusiasmo pelo jornalismo (que eu achava essencial para um dia amarrar uma toalha no pescoço e sair voando). Acima de tudo, Lois. Desde a primeira cena, em que ela conduz um atrapalhadíssimo Clark Kent em seu primeiro dia como repórter no Planeta Diário, aquela mistura de olhar angelical com determinação furiosa me pegou. Os anos se passaram e eu tive outros três encontros com minha Lois Lane no cinema: quando ela descobre a identidade do Superman, quando ela emoldura uma aventura "sequestrada" por Lana Lang e, finalmente, quando ela (quase) é trocada por Mariel Hemingway. Quase. Porque Lois Lane obviamente devoraria a moça com um capuccino no café da manhã. Ela era tudo isso.

Uso o passado aqui porque hoje minha Lois Lane se foi. Ou melhor, Margot Kidder, atriz que melhor materializou a "namorada do Superman" no cinema. Claro que é um apelido já embolorado nos anos 50: ela nunca foi menos que protagonista. Kidder morreu em casa, aos 69 anos. Dormindo, depois de uma carreira de altos e baixos, de manter a cabeça erguida ao ser diagnosticada com distúrbio bipolar, de firmar os pés como ativista (ela foi uma das muitas vozes contra a Guerra do Iraque e chegou a ser presa na Casa Branca, em 2011, contra a construção de um duto de petróleo de Alberta, em seu Canadá natal, até o Texas. Casada e divorciada três vezes (inclusive um relacionamento com o ator John Heard que durou seis dias…), Margot teve uma filha, dois netos e um legado incrível.

Para mim, e para uma geração inteira, porém, ela sempre foi Lois Lane. Depois de começar a carreira em filmes e produções de TV de baixo orçamento ainda no Canadá, ela protagonizou, ao lado do astro Gene Wilder, a comédia Quackser Fortune Has a Cousin in the Bronx, de 1970. Dois anos depois fez gêmeas em Irmãs Diabólicas, de Brian DePalma, e em 1975 rodou Quando as Águias se Encontram, ao lado de Robert Redford. Quando o Homem de Aço bateu em sua porta, Kidder já era uma atriz em evolução, ganhando mais e mais reconhecimento e estabelecendo-se como uma estrela de primeira. Superman – O Filme não interrompeu sua jornada – mas a fez tomar decisões que quase tiraram sua carreira do eixo. A principal foi brigar publicamente com os produtores do longa sobre sua decisão de afastar o diretor Richard Donner – substituido por Richard Lester antes de completar Superman II. Como resultado ela foi praticamente limada do terceiro filme, ressurgindo em seu papel mais icônico na quarta aventura, a mais desastrosa de todas.

Os anos 90 viram os papéis rarear, e sua vida deu uma guinada sinistra em 1996. Ela desapareceu por três dias, encontrada em choque caminhando pelas ruas, suja e perturbada, convencida que um ex-marido era o chefe da CIA e estava determinado a matá-la. A crise nervosa deu um pause em sua carreira, e ela levou uma década para falar livremente sobre o incidente. Mesmo desacelerando, Kidder continuou trabalhando, aparecendo em pequenos papéis nas séries Smallville, Brothers & Sisters e The L Word, chegando a ganhar um Emmy em 2015 por seu trabalho na série infantil R.L. Stine's The Haunting Hour. Uma temporada na Broadway completa seu currículo estelar.

Foi com profunda tristeza que li a notícia de sua morte. De repente, não era mais o jornalista escrevendo algumas linhas sobre uma atriz que nos deixou. Era um garoto de 5 anos que descobriu não só que o homem podia voar, mas que às vezes ele levava uma criatura angelical para o céu com ele. A personagem obviamente continua bem viva – defendida posteriormente por Terry Hatcher, Erica Durance, Kate Bosworth e Amy Adams. Mas nenhuma teria o sangue frio e a acidez jornalística da Lois que encara o Superman com olhos apaixonados, para em seguida disparar "Qual a cor de minha lingerie?". Agora, Margot Kidder e Christopher Reeve, mais de duas décadas depois, voltarão a voar juntos.

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.