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James Cameron e Robert Rodriguez revelam um novo mundo em Alita

Roberto Sadovski

23/07/2018 17h42

Quando eu conversei com James Cameron pela primeira vez, seis meses antes de ele lançar a ficção científica Avatar, o papo enveredou pelos projetos que ele tinha na agulha depois de deixar o mundo digital de Pandora. "Battle Angel Alita será meu próximo filme", cravou na época. "Quero usar as novas tecnologias para adaptar o mangá da forma certa." Os anos passaram, Cameron mergulhou ainda mais fundo no mundo de Avatar (que tem quatro sequências a caminho) e o cineasta percebeu que Alita se tornava uma ideia cada vez mais distante. Corta para 2018, mais de uma década depois de nosso papo, e o responsável por Titanic finalmente está levando a obra de Yukito Kishiro para o cinema… Mas a direção ficou nas mãos de Robert Rodriguez. O novo trailer, porém, imprime os dedos de Cameron em cada pedaço da aventura que estreia por aqui em janeiro.

"Eu estava batendo papo com Robert alguns anos atrás, já havíamos conversado sobre trabalhar juntos, e ele já estava indo embora quando me perguntou se eu tinha algo em mente", lembra Cameron, que falou sobre o filme num bate-papo com fãs de todo o mundo, antes de apresentar o novo trailer. "E eu percebi na hora a afinidade que Robert teria com o material, que é profundamente tecnológico sem deixar de lado as emoções humanas." Rodriguez, que juntou-se a Cameron no evento ao lado do produtor Jon Landau e da atriz Rosa Salazar, foi rápido ao devolver o elogio: "Trabalhar com Jim é entrar em sua escola de ficção científica, e a primeira regra é, não importa o quão fantástico seja o mundo que estamos criando, ele precisa ser enraizado na realidade, precisa ter uma conexão". De um lado vem o criador de Aliens, O Exterminador do Futuro e do próprio Avatar, filmes que desafiaram o modo de fazer cinema em Hollywood; do outro, o autor independente e visceral que reescreveu as regras das ferramentas para fazer filmes visualmente incríveis e narrativamente fluidos, como A Balada do Pistoleiro e Sin City.

James Cameron e Robert Rodriguez no set de Alita

Alita – Anjo de Combate é o resultado dessa mistura, que traz a dupla de cineastas trabalhando para criar algo novo e revolucionário. O novo trailer também serve como correção de percurso, já que a personagem-título, criada com tecnologia de captura de performance (é aí que entra Rosa Salazar), parecia muito caricata no primeiro teaser lançado há alguns meses, com as críticas direcionadas principalmente aos olhos da personagem, maiores que os de um ser humano como homenagem ao estilo japonês de fazer quadrinhos. Agora Alita parece mais natural, mais integrada ao ambiente, o que mostra que mais tempo dedicado ao aperfeiçoamento dos efeitos digitais são sempre benéficos para um filme desse porte. Rodriguez está trabalhando com o roteiro original de Cameron, um tomo de 600 páginas que o diretor conseguiu reduzir e transformar no texto usado na filmagem. "A coisa com Jim é que ele é muito detalhista", comenta Robert. "Eram páginas e páginas dedicadas a explicar a mecânica desse novo mundo, a relação de ciborgues com outras pessoas, o estado da raça humana depois de experimentar uma catástrofe global."

O novo filme também parece diferente de tudo que Robert Rodriguez já fez, do tema à escala – e tudo se alinha com o cinema que acostumamos a receber de Cameron. "Quando Jim visitou o set, ele ficou de olho no monitor que mostrava as imagens de Robert", lembra Rosa Salazar, escolhida após um longo processo para escolher a protagonista. "De repente ele levantou e disse que tinha de sair naquele momento, antes que começasse a mudar as luzes do lugar." Depois de décadas com Alita em mente, não deve mesmo ter sido fácil para Cameron tomar seu lugar como observador: no set, a palavra final sempre foi de Rodriguez. "Nunca tive a menor dúvida sobre o talento de Robert", derrete-se o criador de Avatar. "Ele dizia que assistir a meus filmes foi uma escola, mas só em ver o que ele fez com Sin City, a criação daquele mundo em preto e branco, o modo como ele filmou cenários digitais de maneira estilizada e orgânica, é de perder o fôlego."

Ido descobre Alita nas páginas do mangá de Yukito Kishiro

As imagens de Alita – Anjo de Combate exibidas após o trailer atestam que o casamento das ideias de Cameron com a mão de Rodriguez pode render um filme revolucionário. Apesar da imensidão de detalhes no mundo que eles construíram, ainda é a interação de Alita com os outros personagens que fala mais alto: ação, com as ferramentas certas, é sempre empolgante; fazer com que o público se importe com os personagens e com as consequências dessa ação que fazem a diferença. O filme acompanha Dyson Ido (Christoph Waltz), um "médico cibernético" que encontra no imenso ferro-velho da Cidade de Ferro, último resquício de civilização na Terra, o crânio da ciborgue Alita que, reativada, não lembra nada de seu passado ou de sua função. A jornada revela uma máquina de combate que precisa entender o que ela. "É uma jornada de autoconhecimento", explica Cameron. "Uma história que levanta a questão do significado de ser humano. Em um futuro em que ciborgues fazem parte da paisagem, set humano significa ter uma mente, um coração, uma alma? Essa é a jornada que me envolveu desde que Guillermo Del Toro me mostrou o mangá."

Rodriguez vai além. "O filme também fala do amor de um pai por uma filha, de segundas chances", reflete. "Jim escreveu o primeiro roteiro quando sua filha tinha 13 anos, eu tenho filhos da mesma idade, é fácil se relacionar com a história de diversos ângulos." Rosa Salazar, por sua vez, não contém o entusiasmo ao ver o resultado de seu trabalho. "A gente filma com o traje de mo-cap, e não tem muita ideia de como vai ser o final", conta. "Mas Jim tinha páginas e páginas explicando como seria Alita, sua personalidade, sua fisicalidade, sua curiosidade com o novo mundo que se revela e seu lado sombrio quando ela descobre suas origens. O trabalho com esses caras fica fácil." A atriz lembra que comprou o primeiro volume do mangá, marcou todas as páginas, fez cópias e coloriu o original em preto e branco. "Eu queria também me relacionar com aquele mundo, queria entender o que era ser uma ciborgue com emoções humanas", continua. "E queria de alguma forma colocar meu dedo antes de começar o processo… Me apaixonar por Alita foi inevitável." Que o diga o próprio Yukito Kishiro, que visitou o set e foi recebido de surpresa com um abraço apertado da atriz. "Ele ficou estático por alguns segundos", conclui a atriz. "Depois me abraçou de volta e quase sussurrou, 'Você é Alita'."

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.