As 6 melhores histórias em quadrinhos escritas por Stan Lee!
Roberto Sadovski
14/11/2018 16h29
Hoje começa em São Paulo a exposição Quadrinhos, no MIS – Museu da Imagem e do Som, que traça um panorama incrível e absurdamente completo sobre todos os aspectos das HQs no Brasil e no mundo. Ontem dei uma passada na abertura do evento, e o papo dominante não podia ser outro a não ser a morte de Stan Lee. Fãs, artistas e entusiastas discutiam, entre os corredores enfeitados com arte original de grandes mestres, exemplares raros de gibis fundamentais e uma viagem ilustrada pela cultura pop contemporânea, a importância do ícone da Marvel. Seu legado como porta-voz de uma expressão artística que, se hoje é gigante, é em boa parte por sua contribuição como editor, como garoto-propaganda, como entusiasta e como profissional. E, também, como roteirista. Cheguei em casa lembrando não de personagens, mas de histórias fundamentais criadas (ou co-criadas) por Lee, e como elas vão muito além de uma simples disputa do bem contra o mal. São um espelho que reflete política, religião, filosofia, poder e responsabilidade. O melhor de Stan Lee.
6. "O Bom, o Mau e o Estranho"
Silver Surfer #4, 1968
De todos os personagens criados por Stan Lee, ele nunca escondeu sua predileção pelo Surfista Prateado (como essa lista vai atestar). É a beleza da ficção científica: estudar a condição humana pelos olhos de um forasteiro. Aqui, o andarilho do cosmos, preso em um mundo que o teme e odeia, termina em Asgard, lar dos deuses nórdicos, atraído pelas artimanhas de Loki. Pacifista, o Surfista se vê obrigado a usar seu poder cósmico contra os asgardianos, e termina, influenciado pelo Deus da Trapaça, em um combate com Thor. O traço de John Buscema, talvez o melhor desenhista de super-heróis de todos os tempos, materializa a mistura de fantasia existencialista e pancadaria de ficção científica redigida por Lee à maestria.
5. "A Chegada de Galactus"
Fantastic Four #48-50, 1966
Na metade de sua colaboração histórica em Quarteto Fantástico, Lee e Jack Kirby criaram uma das histórias em quadrinhos mais ambiciosas de todos os tempos, que tratava simplesmente do fim do mundo. Em três edições, Lee e Kirby trouxeram para a Terra o devorador de mundos, Galactus, uma ameaça que logo fica claro a impossibilidade de vitória do grupo formado pelo Sr. Fantástico, Mulher-Invisível, Tocha Humana e o Coisa. A trama, bolada por Lee, desenvolvida por Kirby e finalizada, mais uma vez, pelo roteirista, alterna ação desenfreada com construção de personagens impecável, em especial o solitário Surfista Prateado, arauto de Galactus, que reencontra sua humanidade ao encarar o fim da raça humana.
4. "Homem-Aranha Nunca Mais!"
Amazing Spider-Man #50, 1967
Poder e responsabilidade tem seu preço, e pela primeira vez desde a criação do Aranha, Stan Lee, com arte do incomparável John Romita, faz com que o herói coloque na balança o peso que sua escolha impôs em sua vida. É uma história sem heróis ou heroísmo, mas sobre um sujeito normal que se viu, ainda adolescente, trilhando um caminho extraordinário que lhe trouxe dor e lágrimas. A imagem de Peter Parker abandonando seu traje no lixo é emblemática (foi reproduzida por Sam Raimi no cinema em Homem-Aranha 2), mas o maior triunfo desse conto é mostrar que, por fim, sua escolha já é parte de seu caráter desde que ele decidiu fazer a coisa certa. O uniforme é apenas um símbolo, mas Peter percebe, de maneira clara, que não é este símbolo que faz dele um herói.
3. "This Man, This Monster"
Fantastic Four #51, 1966
Ben Grimm, o Coisa, é um ótimo resumo dos dilemas das criações de Stan Lee. Seus poderes são coadjuvantes à sua humanidade – e este poder tem um preço. No caso de Grimm, o acidente que transformou ele e sua família no Quarteto Fantástico também fez dele uma criatura monstruosa, um colosso de pele rochosa e aparência desumana. Quando um vilão rouba seu poder, devolvendo sua forma humana, Grimm entende seu sacrifício e faz o certo para salvar aqueles que ele ama. Mesmo sabendo o preço que pagaria. É o tipo de história, longe das aventuras bombásticas associadas aos quadrinhos de super-heróis, que definiu a mudança que a Marvel, representada aqui pelo time Stan Lee e Jack Kirby, operou na cultura pop.
2. "Parábola"
Silver Surver #1-2, 1988
Essa minissérie serviu para apresentar o ilustrador francês Jean Giraud, que assinava sua obra como Moebius, ao leitor ianque. Em algum lugar do processo, porém, Lee enxergou algo além. Ele viu na parceria com Moebius a chance de criar a história definitiva do Surfista, ambientando a trama em um futuro distópico em que a Terra está tomada pela apatia, chacoalhada com a volta de Galactus, o devorador de mundos. O Surfista, vivendo entre os humanos em anonimato, ergue-se mais uma vez para enfrentar seu antigo mestre, e o resultado é uma história poética sobre a busca incessante da humanidade por um messias, o fanatismo causado pela religião, o papel da moralidade e do livre arbítrio e, por fim, a natureza da divindade. Uma história de beleza incomparável, que trouxe à tona, mais uma vez, o melhor de Stan Lee como observador da condição humana.
1. "O Capítulo Final"
Amazing Spider-Man #33, 1966
Essa talvez seja a melhor história já publicada pela Marvel, a melhor história de super-heróis de todos os tempos, e com certeza é a melhor história do Homem-Aranha. É também um conto agridoce, o ápice da colaboração de Steve Ditko (que arquitetou a trama em cima da ideia de Stan Lee) e Lee (que finalizou com seus melhores diálogos), publicado quando a relação entre os dois artistas já se encontrava deteriorada. Em busca de um isótopo capaz de curar o envenenamento radioativo no sangue da Tia May, o Homem-Aranha termina soterrado embaixo de toneladas de destroços. O lugar aos poucos é inundado. Exausto, o herói reflete sobre vida e morte e precisa, por fim, encontrar forças para se reerguer. No fim, é uma história sobre a natureza do heroísmo, e resume bem o que Stan Lee buscou quando deu início aos super-heróis humanizados do universo Marvel: ele não escrevia sobre o peso de uma derrota, mas sobre o verdadeiro triunfo ao se reerguer.
Sobre o autor
Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".
Sobre o blog
Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.