Multiverso? Nem tudo é o que parece no trailer do próximo Homem-Aranha
Roberto Sadovski
07/05/2019 01h56
Vou repetir o recado de Tom Holland no começo do novo trailer de Homem-Aranha: Longe de Casa. Se você ainda não assistiu a Vingadores: Ultimato, o texto a seguir (e o trailer) traz SPOILERS pesados do blockbuster da Marvel. Quer manter a experiência pura? Então veja o filme e depois volte aqui. Agora, vamos trabalhar….
Homem-Aranha: Longe de Casa é o epílogo da primeira grande saga da Marvel no cinema, o filme que mostrará as consequências de tudo que aconteceu em Ultimato, do retorno das pessoas que se tornaram pó, cinco anos depois de Thanos usar as Jóias do Infinito, ao impacto da morte de Tony Stark, o Homem de Ferro. Para Peter Parker (Tom Holland), a perda de sua segunda figura paterna é um baque emocional, e superar o vazio parece ser parte de sua jornada no novo filme. A Marvel foi esperta ao expandir o escopo e levar o filme para a Europa, onde Peter encontra-se com Nick Fury (Samuel L. Jackson) e termina alistado para enfrentar ameaças interdimensionais ao lado de Quentin Beck (Jake Gyllenhaal), o poderoso Mysterio. Ele é apresentado por Fury como alguém de um mundo paralelo, transportado para a nossa Terra com o poder do estalar de dedos de Thanos. Em uma palavra: multiverso!
O conceito do multiverso – realidades paralelas que existem sem se colidir – foi sugerido em Doutor Estranho e explorado a fundo em um filme fora do Universo Cinematográfico Marvel: Homem-Aranha no Aranhaverso. Na aventura vencedora do Oscar de melhor animação do ano passado, um Peter Parker mais maduro é transportado para outra Terra, onde sua versão mais jovem foi assassinada, e o manto do Homem-Aranha termina com o adolescente Miles Morales. O jogo aqui, entretanto, é outro. Com a chegada iminente dos X-Men e do Quarteto Fantástico ao MCU, fica fácil chutar que os heróis mutantes e a família de exploradores podem pertencer a outros universos que, agora, podem interferir no nosso. Pelo menos é isso que Beck explica, ao usar sua armadura brilhante – que adapta à perfeição o traje do personagem nos quadrinhos – para enfrentar criaturas elementais à solta pelo mundo.
O Aranha, ainda com seu traje super duper de Ultimato
Ao introduzir a teoria do multiverso em seu universo no cinema, a Marvel abre espaço para histórias novas e empolgantes, ao mesmo tempo em que dá mais uma rasteira na concorrência. Como bem observou Ivan Freitas, um dos idealizadores da CCXP e um dos maiores colecionadores de quadrinhos do país, esse conceito é uma das bases fundamentais do universo DC, presente em suas HQs desde 1961, com a introdução do Flash da Era de Prata, colocando heróis clássicos em um mundo paralelo que, ocasionalmente, interagia com a "Terra ativa". As grandes sagas da DC são invariavelmente apoiadas na ideia de um multiverso, de Crise nas Infinitas Terras a Ponto de Ignição. Os personagens da editora que compartilham aventuras no canal CW, como Supergirl, Arqueiro Verde e o próprio Flash, já encontraram suas versões de outras Terras. Mas se a Marvel abraçar o conceito na escala do MCU, boa sorte para a DC em traduzir uma de suas bases narrativas no futuro sem parecer que estão copiando a concorrência. A essa altura, Darkseid jamais poderia ser usado em um filme do Superman sem o mundo falar "porque eles copiaram o Thanos?"…
Existe, claro, uma pegadinha – e por isso vale ressaltar o "SE a Marvel abraçar o conceito". Até porque, a essa altura, tudo não passa de especulação. É bem possível que tudo não passe de uma armação tremenda de Mysterio, uma distração bem vinda para que ele consiga algum objetivo obscuro, enganando o Aranha e a S.H.I.E.L.D. no processo. Até porque o personagem nos quadrinhos é um golpista, um especialista em efeitos especiais cinematográficos que usa espelhos e fumaça para criar a ilusão de ameaças maiores do que realmente são. Quentin Beck, ao menos nas páginas dos gibis, não tem superpoderes, não consegue voar, e não vem de nenhuma realidade paralela. É bem possível que ele tenha usado uma tragédia em escala global para dar um golpe igualmente gigantesco – e vai caber ao Amigão da Vizinhança desbaratar seus planos. O maior trunfo da Marvel no cinema nos últimos dez anos foi justamente desorientar seu público, desafiando expectativas e especulações ao entregar filmes realmente surpreendentes. Será que, a essa altura, eles jogariam algo tão surpreendente e definitivo como o conceito do multiverso no meio de um trailer? A gente vai saber a resposta em 4 de julho, quando Homem-Aranha: Longe de Casa chegar aos cinemas.
O Aranha (Tom Holland) e Mysterio (Jake Gyllenhaal): amigos para sempre?
Sobre o autor
Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".
Sobre o blog
Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.