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Mulher, negra, letal: Como Bond 25 pode trazer a versão mais radical de 007

Roberto Sadovski

16/07/2019 00h12

Daniel Craig está prestes a pendurar a pistola Walter PPK depois de finalizar o trabalho na próxima aventura de James Bond. A dúvida sobre quem vai assumir o papel do espião domina as conversas em torno do personagem desde 2015, quando 007 Contra Spectre deixou um gosto amargo com seu aparente retrocesso em consolidar os filmes do herói para o século 21. A essa altura é claro que toda discussão acerca do "novo Bond" é um exercício em futilidade, mas os fãs não deixaram de fazer suas campanhas, em especial querendo ver Idris Elba como o agente (o que seria bacana), ou mesmo a possibilidade de Bond ser uma mulher (o que jamais vai acontecer segundo a produtora Barbara Broccoli). A solução encontrada para o próximo filme parece mirar nessa visão progressista, ao mesmo tempo em que não mexe no bom e velho James Bond.

Segundo o Daily Mail, que a gente admite não ser exatamente a fonte mais confiável, enquanto Daniel Craig continua sendo James Bond, o diretor do ainda sem título Bond 25 , Cary Joji Fukunaga, escalou a atriz Lashana Lynch para assumir o papel de 007 no novo filme. Faz todo sentido. O código, afinal, é apenas uma designação para agentes do MI-6, e estaria no ar caso seu detentor mais famoso estivesse indisponível. E é exatamente isso que aparentemente acontece na trama comandada por Fukunaga, que começaria com Bond/Craig aposentado depois dos eventos de Spectre, relaxando na Jamaica ao lado de Madeleine Swann (Léa Seydoux). Enquanto isso, Lashana seria a nova espiã a assumir a posição de agente 007. Uma nova crise global faria com que M (Ralph Fiennes) buscasse a ajuda de Bond – que, ao final da trama, poderia recuperar seu lugar no serviço secreto e o código que determina sua licença para matar. Ou não….

Daniel Craig e Léa Seydoux, aqui em Spectre, estão de volta em Bond 25

Nada disso, obviamente, é confirmado. Mas seria uma indicação de que os produtores da série, embora extremamente rígidos com suas regras em torno da caracterização de James Bond, encontraram uma brecha para apresentar uma 007 radicalmente diferente, inesperada e sensacional. O fato de Lashana Lynch não ser um rosto conhecido corrobora toda a teoria, já que seria mais fácil apontar uma nova espiã na trama a uma intérprete menos chamativa. Depois de exercitar seu ofício em uma longa lista de séries de TV, a atriz ganhou destaque em Capitã Marvel como Maria Rambeau, melhor amiga de Carol Danvers (Brie Larson), que se reconecta com a parceira após esta retornar do espaço com poderes cósmicos. Embora tivesse pouco tempo em cena, Lynch deixou sua marca – o que deve estourar ainda mais caso a teoria de ela ser o novo 007 se concretize. Ela divide o filme com um elenco de cair o queixo, de veteranos (além de Fiennes e Seydoux, estão de volta Ben Wishaw, Naomie Harris, Jeffrey Wright e Christoph Waltz como o vilão Blofeld) a novatos no mundo de Bond, como Ana de Armas (Blade Runner 2049) e Rami Malek (Bohemian Rhapsody).

Bond 25 é um dos filmes mais importantes para a série por uma série de fatores. A despedida de Craig é a principal, claro, com o ator buscando deixar o barco em alta depois da frustração de Spectre. Mas é também o momento de a série se posicionar para o futuro sem deixa de ser uma relíquia do passado. Em um mundo preocupado com representatividade e diversidade, James Bond parece um dinossauro, misógino e anacrônico – e é assim que tem de ser. "Existe uma discussão se a série ainda é relevante nos dias de hoje por causa de quem Bond é e o modo como ele trata mulheres", diz a roteirista Phoebe Waller-Bridge, convocada para se unir ao time de escritores do filme depois de seu trabalho absolutamente brilhante nas séries Killing Eve e Fleabag. "Acho que é uma grande besteira. E acho que ele é absolutamente relevante para os dias de hoje. A série só precisa crescer. Evoluir. E é importante que o filme trate as mulheres de maneira apropriada. Mas ele não precisa! James Bond tem de permanecer fiel ao personagem."

A roteirista Phoebe Waller-Bridge, criadora e protagonista de Fleabag

O futuro depois de Bond 25 ainda é uma incógnita que só começará a ser respondida depois da estreia do filme em abril do ano que vem. Os fãs mais histéricos, preocupados com o retrato de seu espião misógino favorito, podem ficar mais sossegados, já que Bond não deixará de ser Bond – assim como nunca o deixou mesmo com o mundo mudando nas últimas cinco décadas, com o agente secreto atravessando, sem grandes desastres, a Guerra Fria, o mundo após a queda do Muro de Berlim e o cinema de ação, em que ele deixou de dar as cartas em algum ponto nos anos 90, competindo com Ethan Hunt e Jason Bourne e uma nova geração de thrillers de espionagem, reencontrando sua relevância com Daniel Craig e um olhar nostálgico que não deixou de abraçar o futuro. Ter uma agente 007 na mistura é uma grande ideia, capaz de fazer com que Bond reavalie sua própria importância e seu lugar no mundo. Por essa ninguém esperava – mas cinema só é bom quando recupera sua capacidade de surpreender.

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.