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Aves de Rapina: a nova regra da DC no cinema é não ter nenhuma regra

Roberto Sadovski

02/10/2019 00h40

A DC jogou a toalha – e foi a melhor decisão para seus personagens no cinema. Explico. Quando a Marvel criou, com sucesso sem precedentes, seu universo cinematográfico, a concorrência achou por bem não deixar barato e foi lá imitar seus passos. Foi um desastre. A tentativa de criar uma série de filmes conectados durou exatos cinco filmes, com um razoável (O Homem de Aço), um verdadeiramente bacana (Mulher-Maravilha) e três completos desastres (Batman vs Superman, Esquadrão Suicida e Liga da Justiça). Perdendo de goleada não só no jogo das bilheterias, como na comparação qualitativa, os executivos do estúdio tomaram a melhor decisão, que foi esquecer essa história de "universo compartilhado". Isso aí, deixa essa opção para quem saber fazer! A alternativa que ergueu-se dos destroços fumegantes do tal "universo" foi começar tudo de novo, deixando equipes criativas livres para conduzir as propriedades intelectuais em mãos da melhor maneira. Chega de fan service: o negócio é fazer bons filmes.

Se a coisa já tinha mostrado bons resultados artísticos com Shazam! (uma comédia) e Aquaman (uma aventura), o trailer de Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fabulosa escancara que ninguém mais nos corredores da DC está preocupado com coerência em seu universo cinematográfico. Afinal, ele não existe mais! Vejamos. O filme, que estreia em fevereiro e tem Cathy Yan na direção, será centrado 100 por cento na figura da Arlequina, defendida de forma brilhante por Margot Robbie em Esquadrão Suicida (na verdade, basicamente o único elemento bacana do filme). Ela até sugere a presença do Coringa, seu parceiro em vida e com quem ela agora rompeu o relacionamento (Jared Leto saiu de cena, e a partir dessa semana o Palhaço do Crime no cinema terá voz e rosto de Joaquin Phoenix). Mas nessa Gotham City de sua nova aventura é impossível o Batman dar as caras, já que Ben Affleck pendurou a capa e Robert Pattinson prepara-se para reiniciar o Cavaleiro das Trevas em uma nova aventura com zero ligação com este universo.

Arlequina (Margot Robbie) lidera o girl power de Aves de Rapina

Podemos ir além, desenhando um pouco essa nova disposição da DC no cinema. A própria Margot Robbie também está no elenco do reboot light de Esquadrão Suicida, agora conduzido por James Gunn (Guardiões da Galáxia), que usa alguns rostos familiares (Joel Kinnaman, Jai Courtney, Viola Davis) e outros nunca vistos em uma produção que tenta ao máximo se desassociar de seu predecessor – a diferença dos dois títulos está unicamente em um artigo. Seria uma continuação de Aves de Rapina? Hmmm, aposto uma biloca que não. Assim como Mulher-Maravilha 1984 deve trazer ligação superficial com o filme-solo da heroína lançado em 2016, além de apagar sua cronologia mostrada em BvS e em Liga da Justiça – ela chega a dizer que ficou isolada da humanidade por um século, o que inviabilizaria uma aventura em… 1984! Coringa, que estreia essa semana, é um ponto totalmente fora da curva, já que usa elementos familiares das aventuras do Batman mas é um drama psicológico à parte, que não orna com os outros brinquedos da caixinha da DC. Finalmente, The Batman é uma reinvenção do zero do Homem-Morcego, com o diretor Matt Reeves (Planeta dos Macacos: A Guerra) dirigindo Robert Pattinson ao lado de uma galeria robusta de coadjuvantes das histórias do herói.

Vale uma palavra-chave aqui: demorou. Se a Marvel sempre teve os personagens mais complexos e humanizados, a DC sempre teve as histórias mais icônicas. Menos em suas revistas de linha, mais em graphic novels e edições especiais. Seus heróis e vilões mostraram-se, ao longo dos anos, perfeitos para reinterpretações por vezes radicais – Batman já se tornou um vampiro após ser mordido por Drácula; o Superman já foi apresentado como um jovem do mundo real chamado Clark Kent (e ridicularizado por seu nome), que termina tendo poderes de fato. Cada editora e seu "elenco" tem suas particularidades, e mimetizar o jogo campeão da Marvel foi, de cara, o maior erro que a DC poderia ter cometido. Aparentemente esse erro está sendo corrigido, e seus personagens poderão, finalmente, mostrar sua luz própria sem as amarras de uma continuidade que, na tela grande, não deu lá muito certo. E Aves de Rapina, honestamente, parece absurdamente bacana!

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.