10 filmes originais bacanas para assistir na Netflix depois de O Irlandês
Roberto Sadovski
28/11/2019 02h53
O Irlandês entrou no catálogo da Netflix, deixando os amantes do bom cinema desconectados do mundo por pelo menos 3 horas e meia (mas você pode, claro, pausar o filme quando quiser). Felizmente, a plataforma de streaming já vinha produzindo muita coisa boa antes da obra-prima de Martin Scorsese (ok, muito filme absurdamente ruim também, mas a gente ignora os Bright e os Bird Box da vida e segue em frente). Para manter você conectado, selecionei títulos que cutucam uma pá de gêneros diferentes, porque variedade é o tempero da vida. Assim, certamente fica fácil encontrar algo que seja exatamente sua praia! Ah, e vale repetir: o uso do botão de pause está liberado!
BEASTS OF NO NATION
(Cary Fukunaga, 2015)
O filme que começou tudo na Netflix. Fukunaga (True Detective) não aliviou neste drama de guerra que acompanha um menino que, em uma nação africana indefinida, é lapidado para se tornar um soldado infantil em uma guerra civil de consequências drásticas. O garoto, Agu, mergulha em uma rotina de abuso sexual infantil, morte e crueldade, amplificada quando seu comandante (Idris Elba) rompe com sua própria facção e lidera seu grupo em uma jornada sem esperança. Material poderoso, incômodo e, mais do que nunca, essencial
OKJA
(Bong Joon Hu, 2017)
O diretor coreano em cartaz com o sublime Parasita criou esta fábula sobre o capitalismo e a sociedade de consumo vista sob os olhos de Mija (Ahn Seo-Hyun), uma jovem que toma conta de um animal geneticamente superior, Okja – espécie de super porco, mezzo canino, dócil e companheiro. Quando chega a hora de a multinacional que criou Okja recuperá-la, Mija e um grupo de ativistas parte para o resgate, que pode terminar em um abatedouro. Bong usa o exagero para ressaltar a crueldade do tratamento de animais em cativeiro, mas sua direção firme nunca deixa o filme sair dos trilhos. O resultado é uma bela história de amizade e (in)justiça.
JOGO PERIGOSO
(Gerald´s Game, Mike Flanagan, 2017)
Mike Flanagan está à frente de uma nova geração de diretores de terror, tanto em streaming (é dele a série A Maldição da Residência Hill) e no cinema (seu Doutor Sono ainda está em cartaz). Jogo Perigoso não alivia a atmosfera sufocante do gênero mesmo em menor escala. Baseado no livro escrito por Stephen King em 1992, a trama segue um casal (Carla Gugino e Bruce Greenwood), isolados em uma casa no lago para reatar seu casamento. Algemada na cama, como parte de uma fantasia, ela torna-se prisioneira desse jogo quando o marido sofre um infarto. Tentando se libertar, ela tem alucinações, revive traumas do passado e conversa com um "homem feito de luar", desfigurado e ameaçador, que passa a assombrá-la. Flanagan entende do riscado.
OS MEYEROWITZ: FAMÍLIA NÃO SE ESCOLHE (Histórias Novas e Selecionadas)
(The Meyerowitz Stories (New and Selected), Noah Baumbach, 2017)
Diz a lenda que Adam Sandler escolhe seus melhores filmes quando usa um bigode. Ok, é só lenda. Mas é um Sandler bigodudo que está à frente dessa dramédia que Noah Baumbach criou para o streaming – o filme mais recente do diretor, Histórias de Um Casamento, certamente entraria nessa lista se eu esperasse algumas semanas até ele ser disponibilizado. Aqui, um Sandler recém-divorciado e desempregado volta a morar com seu pai (Dustin Hoffman), disparando um drama familiar envolvendo uma coleção de parentes (o elenco inclui Ben Stiller, Emma Thompson e Candice Bergen). Um filme agridoce e melancólico, sem perder o bom humor – como toda reunião de família.
CARGO
(Yolanda Ramke e Ben Howling, 2017)
Quando a gente pensa que os zumbis no cinema já chegaram em seu limite criativo, vem um filme como Cargo e sussurra, "pense novamente". Na Austrália longe de qualquer centro urbano, a família Rose acompanha a praga zumbi que afligiu o mundo na segurança de sua casa flutuante. Quando Kay é atacada, sabendo que se tornará mais uma morta-viva em dois dias, resta a Andy (Martin Freeman) buscar refúgio e, depois, segurança para sua bebê, ele mesmo ciente que também tem pouco tempo de vida. A jornada torna-se um estudo da selvageria humana e da luta pela sobrevivência – tudo ancorado por uma performance brilhante de Freeman.
THE BALLAD OF BUSTER SCRUGGS
(Joel e Ethan Coen, 2018)
As seis histórias que formam essa antologia dos irmãos Coen foram escritas pela dupla ao longo de duas décadas, colecionando assuntos e estilos diferentes. Curiosamente, elas formam um mosaico coeso da vida no Oeste americano, abraçando um dos gêneros mais tradicionais do cinema ianque. Do humor absurdo da história que abre o filme, justamente "The Ballad of Buster Scruggs", à soturna "The Mortal Remais", encerrando a jornada com uma alegoria sobre o fim nada romântico da colonização do país, os Coen tecem contos quase perfeitos, que se tornam ainda mais hipnotizantes com o elenco absurdo que abraçou a empreitada – de Tim Blake Nelson e e James Franco, passando por Liam Neeson, Tom Waits, Zoe Kazan e Brendan Gleeson. Um filme saboroso, que fica melhor ao ser degustado de uma só vez.
O PLANO IMPERFEITO
(Set It Up, Claire Scanlon, 2018)
Quando o mundo virou as costas para a comédia romântica, pilar do cinema americano desde sempre, a Netflix reempacotou o gênero e o devolveu para a platéia na forma de uma dúzia de romances açucarados e viciantes. O Plano Imperfeito está entre os melhores, acompanhando dois assistentes (Zoey Deutch e Glen Powell) de chefes tirânicos que traçam um plano (duh…) para melhorar suas vidas ao fazer com que os patrões (Lucy Liu e Taye Digg) se conheçam e disparem um relacionamento. Claro que tudo dá errado. Claro que ninguém é exatamente quem parece ser. Claro que os colegas se amam e nem percebem! Você já sabe de tudo isso antes mesmo de começar o filme – e ainda assim é irresistível ver até o fim.
ROMA
(Alfonso Cuarón, 2018)
A obra-prima de Alfonso Cuarón é também a primeira produção Netflix a ter pedigree para deixar o estigma "filme de TV". Honestamente, Roma só não ganhou o Oscar pela teimosia em membros da Academia em reconhecer uma obra desse porte, independente de quem paga a conta (e perdeu para o esquecível Green Book, fala sério!). É um filme intimista, uma história pessoal para o diretor, acompanhando uma família de classe média alta mexicana e sua relação com a empregada, Cleo (a espetacular Yalitza Aparicio). Tecnicamente perfeito e emocionalmente devastador, Roma é uma experiência difícil de ser esquecida. Será que O Irlandês quebra essa barreira e fatura um careca dourado?
HIGH FLYING BIRD
(Steven Soderbergh, 2019)
Depois do thriller Unsane, lançado em 2018, Steven Soderbergh continuou experimentando as possibilidades de criar filmes usando ferramentas, digamos, alternativas. Este drama que explora os bastidores do esporte profissional, acompanhando um agente que tem 72 horas para resolver um dilema que o coloca entre a liga de basquete e os jogadores, foi rodado com o iPhone 8 equipado com uma lente anamórfica – ele filmou "na vertical" mas manteve o formato do cinema. Exibido em Sundance em janeiro passado, High Flying Bird estreou na Netflix no mês seguinte – a empresa comprou o projeto quando Soderbergh terminou as filmagens, e o diretor queria fugir da exibição certamente restrita ao circuito "de arte" e optou por uma distribuição para alcançar o maior público possível. Arrisque!
MEU NOME É DOLEMITE
(Dolemite Is My Name, Craig Brewer, 2019)
Eddie Murphy já era história antiga no cinema há décadas. Gigante nos anos 80 (e parte dos 90), o astro afundou em uma série de escolhas ruins e filmes que raramente iam além do medíocre. Os Picaretas, de 1999, foi seu último petardo como protagonista e, tirando a série Shrek e um papel coadjuvante no poderoso Dreamgirls, em 2006, ele estava a um passo da irrelevância. Mas um jogo só acaba quando termina, e eis que Meu Nome É Dolemite recuperou seu talento avassalador – curiosamente ao biografar outro gigante, o lendário Rudy Ray Moore, que se tornou comediante de stand up e astro da blaxploitation por pura força de vontade e teimosia irrefreável. Mais ou menos como Eddie, que volta aos cinemas em grande estilo ano que vem com a continuação de Um Príncipe em Nova York, e finalmente prepara Um Tira da Pesada 4 para a Netflix. Antes tarde…
Sobre o autor
Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".
Sobre o blog
Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.