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Operação sofá: 12 filmes em streaming para fugir da folia do Carnaval!

Roberto Sadovski

02/03/2019 02h21

O Carnaval começa hoje. Para muitos, é o momento de colocar (ou tirar) as máscaras e aproveitar quatro dias de farra intensa, invariavelmente regada a música ruim e cerveja quente. Seja em bloquinhos, no sambódromo, em clubes (ainda existem bailes?) ou no churrascão amigo, a turma deixa os traumas da vida real ligeiramente de lado para se transportar a um país idílico, em que diversão é a ordem, e o hino é "Bola Rebola" com a Anitta (não se enganem, é o hino nas escolas também…). E tá tudo certo! Mas é claro que nem todo mundo se empolga com o Carnaval. Como nesses dias de folia dizer que não vê muita graça na festa é pecado passível de imolação pública, a melhor maneira de fugir do esquindô é em casa, no sofazão, munido de um bunker de víveres (a ciência comprova que é, sim, possível sobreviver por quatro dias só com pizza), uma TV bacana e o controle remoto com pilhas. Para ajudar, eu passei a tarde de ontem zapeando por duas plataformas de streaming – Netflix e Amazon Prime – para listar uma seleção que vai ajudar a aliviar os efeitos do reinado de Momo. Não existe método na escolha dos filmes a seguir, a não ser a busca por diversão e entretenimento. Tentei seguir o mood do próprio Carnaval (sabe como é, pra dar um charme) e fugi de filmes mais densos (nada de Roma, nada de O Poderoso Chefão, nada de O Homem Que Não Vendeu sua Alma, mesmo que todos estejam disponíveis). Três por dia, mas cabe mais, e colocar QUALQUER COISA da Marvel, Star Wars ou Indiana Jones é acertar no alvo. Agora respira fundo, se joga no sofá e vamos aproveitar o Carnaval no melhor lugar do planeta: nossa casinha.

COLOQUE SUA MÁSCARA!

Sabadão de Carnaval! Todos ainda sóbrios, todos ainda em posse das faculdades cognitivas! É hora de se preparar, tirar a melhor máscara do armário e cair na festa. Mais ou menos como a gente esquenta aqui, com filmes em que os protagonistas dão o melhor de si atrás de um disfarço maroto…

O MÁSKARA
(The Mask, 1994, Netflix)

1994 foi o ano em que o mundo foi apresentado ao gênio que é Jim Carrey. De uma só tacada, ele protagonizou Ace Ventura: Um Detetive Diferente, Debi & Lóide e, no topo da lista, este que ainda é um de seus melhores trabalhos. Com Chuck Russell na direção, adaptando uma história em quadrinhos anárquica e independente, Carrey fez o melhor uso de seu rosto elástico, usando a maquiagem bacana e os efeitos digitais pioneiros para aprimorar seu talento natural. O Máskara funciona em todos os níveis: como aventura bacana, como comédia mordaz e como romance fofo. É a melhor maneira de começar a folia!

CONVENÇÃO DAS BRUXAS
(The Witches, 1990, Netflix)

Existe um zumzumzum de que o livro de Roald Dahl ganhará uma nova adaptação para o cinema. Boa sorte para quem for encarar o trampo, já que essa fábula de terror comandada por Nicolas Roeg é a perfeição em forma de cinema. O saudoso diretor de Inverno de Sangue em Veneza e O Homem Que Caiu na Terra, que partiu para outro plano em novembro do ano passado, trouxe equilíbrio entre conto de fadas e história de terror ao acompanhar um garotinho que precisa deter uma convenção de bruxas determinadas a varrer todas as crianças da Inglaterra – tarefa dificultada quando ele é transformado em um rato. Angelica Huston, sempre no comando, transforma-se na bruxa mais apavorante e sensacional que o cinema já viu!

UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES
(An American Werewolf in London, 1981, Amazon Prime)

A "máscara" nesse clássico moderno de John Landis não só apavorou plateias em todo o planeta por sua perfeição, como inaugurou uma nova era de excelência para a maquiagem no cinema. Cortesia do gênio Rick Baker, a transformação de David Naughton em uma criatura da noite bestial é um daqueles momentos que só o cinema poderia eternizar. Mas Um Lobisomem Americano em Londres não é só técnica, já que Landis desconstruiu uma pá de convenções do cinema de terror, misturou humor negro insuspeito e saiu com o primeiro lobisomem "realista" da história. Décadas depois, ainda não foi superado.

DESLIGUE O CÉREBRO!

No domingo, a festa já está encaminhada. Não há mais espaço para encucar com os boletos, não há mais desculpa para não abraçar a folia. Exceto, claro, se o sofazão for seu destino, com o melhor do cinema de ação moderno entrecortado por uma comédia que deixa qualquer um, literalmente, com água na boca.

DURO DE MATAR: A VINGANÇA
(Die Hard With a Vengeance, 1995, Netflix)

Quando John McTiernan voltou ao comando de uma aventura do policial John McClane, o terreno já estava pronto. Afinal, o diretor, em parceria com Bruce Willis, haviam reinventado o cinema de ação sete anos antes no melhor exemplar do gênero de todos os tempos. Ou seja, dessa vez a única preocupação era criar um belo pedaço de entretenimento. Essa é a melhor definição de Duro de Matar: A Vingança, que foi trabalhado em cima de um roteiro comprado pelo estúdio (Simon Says, considerado anteriormente para um quarto Máquina Mortífera) e traz conexão forte com o filme de 1988. O melhor de A Vingança, porém, é a química absurda de Willis com Samuel L. Jackson, em um jogo de gato e rato que transforma a cidade de Nova York no playground de um terrorista (Jeremy Irons) disposto a eliminar McClane da face da Terra. Ainda me espanto quando converso com quem nunca viu o terceiro Duro de Matar – acabaram as desculpas!

CHEF
(Chef, 2014, Netflix)

Antes mesmo de dirigir Homem de Ferro em 2008, Jon Favreau já era um sujeito ocupado dos dois lados da câmera. Ajudar a iniciar o Universo Cinematográfico Marvel adicionou pressão ao trabalho, e ele abraçou o cinemão hollywoodiano em Homem de Ferro 2 e Cowboys & Aliens. Antes de encarar mais um trabalho tecnicamente extenuante com Mogli, o Menino-Lobo, porém, ele decidiu dar um respiro com essa comédia independente, um road movie que celebra amizade, família… e comer bem! Chef coloca Favreau como um chef (duh) que perde o emprego num restaurante chique, e usa a oportunidade para reformar um food truck, juntar o filho que anda meio afastado, convocar um amigo e pegar a estrada em uma jornada gastronômica que atiça não só o apetite, como renova o gosto por viver. Um pequeno grande filme!

DE VOLTA AO JOGO/JOHN WICK: UM NOVO DIA PARA MATAR
(John Wick/John Wick: Chapter 2, 2014/2017, Netflix/Amazon Prime)

Ok, eu admito, estou quebrando minhas próprias regras ao criar uma sessão dupla em minha própria lista! Mas é por uma boa causa, e é domingo de Carnaval, amanhã você nem precisa acordar cedo. E não existe melhor companhia do que o assassino que marcou mais uma fase na carreira de Keanu Reeves. John Wick é uma criação tão genial quanto simples, o matador relutante que, mesmo depois de ter abandonado a vida de sangue e mortes, é obrigado a voltar a pegar em armas quando a vida lhe vira as costas (bobagem, é por vingança mesmo). Se o conceito é trivial, a execução é um exercício em estilo. Os dois John Wick, afinal, não se passam no "mundo real", e sim em uma metrópole idealizada em que assassinos cheios de regras congregam em um hotel que serve como uma ilha em meio ao oceano de matança que segue os passos de Wick. Reeves aproveita sua persona estóica ao máximo, criando mais um personagem memorável, que volta aos cinemas ainda este ano. Ainda bem!

O CAOS E A BARBÁRIE!

Na segunda-feira, o Carnaval já entrou em sua fase terminal. O rastro dos bloquinhos é cenário perfeito para um filme pós-apocalíptico, com mortos-vivos, criaturas abissais e gangues urbanas tomando o cenário. Para esse clima super bacana, a sugestão são filmes que espelhem o espírito das ruas!

INVASÃO ZUMBI
(Busanhaeng, 2014, Netflix)

Esqueça esse título nacional genérico. O filme do coreano Sang-ho Yeon ilustra o caos urbano quando zumbis se multiplicam em meio à população. As "regras" do gênero estão em ação, como a transmissão do "vírus" zumbificante por mordidas e a multidão alucinada correndo atrás de sobreviventes em uma paisagem de pesadelo. Ainda assim, Yeon faz com que Invasão Zumbi nunca perca o foco narrativo, mantendo a trama centrada no pai que tenta tirar a filha de Seul até Busan, onde supostamente o exército freou o avanço dos infectados. A ação é claustrofóbica, concentrada no trem que faz o trajeto entre as cidades, com os sobreviventes revelando sua humanidade – ou falta dela – ante o avanço da legião de mortos. Um filme original construído em torno de um tema batido.

O ATAQUE DOS VERMES MALDITOS
(Tremors, 1990, Netflix)

Não tenho coragem de chamar O Ataque dos Vermes Malditos de "clássico" – mas é inegável que a aventura dirigida por Ron Underwood é um dos filmes mais divertidos dos anos 90. Sem falar que se tornou uma franquia improvável, que gerou cinco (!) continuações e duas séries de TV – uma já cancelada, outra na boca do gol, mas ainda sem data. Nenhum deles, porém, contou com o ilustre Kevin Bacon, que encabeçou o original como um "faz-tudo" caipira que lidera a defesa de uma cidadezinha contra criaturas gigantescas que habitam o subterrâneo – minhocas anabolizadas com sede de sangue. O conceito original e a direção segura de Underwood elevaram Vermes Malditos a status cult ao longo dos anos, uma variação esperta de Tubarão com monstros originais e ameaçadores. Nunca o proverbial "sai do chão" fez tanto sentido….

WARRIORS – OS SELVAGENS DA NOITE
(The Warriors, 1979, Amazon Prime)

Quem diria que Nova York, paraíso de turistas e provavelmente a cidade mais famosa do mundo, um dia foi uma metrópole perigosa, habitada por tipos ameaçadores. O genial Walter Hill (48 Horas, Ruas de Fogo) capturou esse caos urbano à perfeição com essa fantasia distópica que extrapola a violência real, fazendo da "Grande Maçã" palco do conflito de gangues urbanas que resolvem suas diferenças às custas de sangue e morte. Quando o líder da gangue mais poderosa da cidade é morto, a culpa recai nos Warriors, que tornam-se alvo não só de seus rivais, mas também da polícia da cidade. Eles precisam cruzar a cidade de ponta a ponta, de Manhattan ao Bronx, para chegar à segurança de seu pedaço. Hill não foge do tom fantástico, mas injeta uma certa crueza que ressalta sua violência, uma atmosfera revisitada de certa forma por John Carpenter dois anos depois com Fuga de Nova York. Seria uma sessão dupla perfeita…. SE o filme de Carpenter estivesse disponível em streaming no Brasil…..

RIR É O MELHOR REMÉDIO!

Último dia de Carnaval, a terça-feira é quando os excessos cometidos nos dias anteriores de folia começam a pesar quando o teor alcoólico no sangue retoma aos poucos o nível normal. Pergunto, eu, perplexo: vale a pena esquentar? Ou é melhor aproveitar o restinho da festa, já de olho no ano que vem? Para quem está no sofá, comédias para encerrar a folia em bom tom!

HERÓIS FORA DE ÓRBITA
(Galaxy Quest, 1999, Amazon Prime)

Eu falei sobre esse pequena obra-prima moderna quando listei os melhores filmes de 1999 – e vale o bis porque cruzei com a comédia de Dean Parisot numa zapeada marota e não toquei no remoto até o fim do filme. Tim Allen encabeça uma tiração de sarro saborosa com os fãs de Jornada nas Estrelas e sua relação com os astros da série. A pegadinha aqui é que os fãs são uma raça alienígena que erguei sua sociedade espelhando os conceitos do antigo programa de TV Galaxy Quest – que eles acreditam ser real. Quando eles são ameaçados por um tirano intergaláctico, eles convocam os heróis da série, sem saber que se tratam de atores. É um conceito genial, materializado numa comédia de elenco estelar (além de Allen, Alan Rickman, Sigourney Weaver e Sam Rockwell engrosssam o time) que merce ser (re)descoberta. De nada!

FEITIÇO DO TEMPO
(Groundhog Day, 1993, Amazon Prime)

Eu ouvi "melhor comédia de todos os tempos"? Se não é, raspa a trave. Bill Murray é o protagonista desse filme despretensioso que, ao longo dos anos, ganhou vulto e passou a ser estudado por seu conceito radical e por suas implicações filosóficas. Murray é o "homem do tempo" de uma rede de TV de Pittsburgh que, ao viajar para uma cidadezinha para cobrir o Dia da Marmota, enxerga-se preso ao mesmo dia, que repete-se constantemente, não importa o que ele faça. A "mensagem" é singela: ele precisa se tornar a melhor versão de si mesmo para escapar do loop temporal. As implicações, porém, são devastadoras. Explico: assista a Feitiço do Tempo e divirta-se com a performance brilhante de Murray, dirigido com precisão por seu colega de Os Caça-Fantasmas, Harold Ramis. Depois, tente imaginar quanto tempo ele ficou preso ao Dia da Marmota – o roteiro original revelava 10 mil anos (!), sendo que Ramis depois diminuiu esse tempo para uma década. Ainda assim…

APERTEM OS CINTOS! O PILOTO SUMIU
(Airplane!, 1980, Amazon Prime)

Com a quarta-feira de cinzas no horizonte, a ideia é encerrar sua maratona com um dos filmes mais citados pela cultura pop. Não existe uma vírgula fora do lugar nessa pérola dirigida pelo trio Jerry Zucker, Jim Abrahams e David Zucker, uma paródia genial dos filmes-catástrofe que assolaram Hollywood na década anterior. Aqui não há ponto sem nó, e o plot – um ex-piloto que tem pavor de voar é obrigado a pousar um avião quando o piloto fica doente – é mera desculpa para uma metralhadora de gags sem paralelos. Cada cena funciona como um sketch cômico, e a narrativa principal divide espaço com momentos de humor inacreditável – que, obviamente, não vou me atrever a citar aqui, mas deixo um exemplo aí embaixo…. Ah, e bom Carnaval!

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.