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Will Smith precisa de Independence Day 2?

Roberto Sadovski

24/06/2013 16h31

"Will SMith não pode voltar porque ele é muito caro." E foi assim, num bate papo com o NY Daily News, que o diretor Roland Emmerich colocou uma pedra em cima da participação do astro na continuação (ou continuações) de Independence Day. "Ele também se tornou um astro muito grande, seria demais." É a primeira vez que eu vejo um diretor reclamar que a fama e o reconhecimento global de seu suposto astro não seriam adequados para um filme. Uma coisa fica clara: quase duas décadas depois de a Terra ser atacada por alienígenas no filme que dominou 1996, as engrenagens estão se movendo para que ID Forever (sim, essa beleza é o nome) chegue aos cinemas no verão americano de 2015. A primeira parte, ao menos.

Vamos aos fatos. Independence Day é o filme que fez de Will Smith um astro. Liderando a aventura ao lado de Bill Pullman (o presidente dos Estados Unidos) e Jeff Goldblum (o cientista que bola a maneira de vencer os invasores), Will foi quem saiu por cima. De repente, o protagonista de uma série cômica da TV, rapper de sucesso e pretenso heróis do cinema de ação (Bad Boys, de Michael Bay, havia sido um sucesso moderado no ano anterior a ID4) se tornou um astro global. No ano seguinte ele fez Homens de Preto e o mundo o abraçou. Carisma aos baldes e um ótimo senso de auto promoção fizeram de Smith, ao lado de Tom Cruise, Brad Pitt e, vá lá, Leonardo DiCaprio, um dos poucos atores capazes de carregar um filme sozinhos. Para todos os efeitos, ele é mesmo muito caro e muito conhecido para voltar a Independence Day.

Isso, claro, se não fosse por Depois da Terra.

Todo astro chega no ponto de tropeçar num "projeto de vaidade". Bruce Willis teve seu Hudson Hawk. John Travolta brigou por A Reconquista. Apesar de ser uma ficção científica sólida, Depois da Terra deixou a percepção de Will Smith estar dando um presente para seu filho, Jaden. O público ianque não topou. Numa temporada de verão salpicada de vencedores (Homem de Ferro 3, Além da Escuridão: Star Trek, O Grande Gatsby, O Homem de Aço, Guerra Mundial Z – todos fazendo uma bela carreira), Depois da Terra patina para bater nos 60 milhões de dólares nas bilheterias. Não chega perto do orçamento de 130 milhões. É um fiasco financeiro como Lendas da Vida (de 2000) e Ali (de 2001). Depois que Sete Vidas somou 70 milhões em 2008 (mas era um drama, sem um décimo do empurrão de marketing de Depois da Terra),  Will Smith se recolheu em sua mansão, produziu Karate Kid para o filho em 2010 e foi reencontrar o sucesso com o terceiro Homens de Preto ano passado. Não por acaso, a continuação de um de seus maiores sucessos.

Por que tão sério, Will? Só porque Depois da Terra foi um fracasso?

A carreira de Roland Emmerich pós-Independence Day também não foi sem percalços. Uma pisada na bola (Godzilla, de 1998) foi sucedida por sucessos moderados (O Patriota, 10.000 A.C.) e blockbusters globais (O Dia Depois de Amanhã, 2012). Ano passado ele embarcou em seu "projeto de vaidade", o drama shakespereano Anônimo, e se prepara para tomar as bilheterias com O Ataque, com Channing Tatum e Jamie Foxx em meio à destruição da Casa Branca. Em todo esse tempo, uma sequência de Independence Day nunca deixou a pauta. E Emmerich nunca a negou: só disse que não era o momento. Agora parece que o momento chegou, e ele promete trazer parte do elenco original com novos personagens em uma trama que mostra o retorno dos aliens derrotados à Terra. desta vez, porém, estamos preparados, já que aprendemos com a tecnologia que os ETs deixaram para trás. Mesmo em um ano já inflado por Os Vingadores 2, Piratas do Caribe 5 e Star Wars Episódio VII, um novo Independence Day pode ser divertido.

Para Will Smith, podia ser uma boa. O longo tempo longe dos cinemas depois de Sete Vidas pode ter cobrado um preço. Homens de Preto 3 provou a força da marca, e seu sucesso obviamente respinga no astro. Mas Depois da Terra é unicamente ônus do ator. Voltar ao personagem que o consagrou poderia ser uma maneira de solidificar essa fase mais madura em sua carreira – o que poderia ser equilibrado com filmes mais autorais, como Django Livre, de Quentin Tarantino, o qual ele recusou o papel principal. Smith já mostrou que é um astro global. Já provou que sabe vender a si mesmo. E já deixou claro que sabe divertir (e se divertir) em cena. ID Forever (nunca vou me acostumar com esse título) seria uma forma bacana de ele fechar o círculo e, aí sim, partir para uma nova fase em sua carreira. Roland Emmerich jogou a bola para o astro. Agora tudo que Will Smith precisa é dizer que não é tão caro assim, que não existe isso de "ser famoso demais" para um filme. E rebater.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.