O novo RoboCop tem um trailer... e todo mundo já está falando mal?
Ontem foi lançado o trailer de RoboCop, de José Padilha. E o mundo, aparentemente, detestou. Nenhuma novidade. Desde que assumiu o projeto, Padilha parece que bateu os pregos do Cristo, já que cada imagem, cada relato do set, cada oba oba é recebido pelos fãs com birra, raiva, desprezo… Tudo isso para um filme que só teve as primeiras imagens reveladas julho passado durante a Comic-Con (e foram bem recebidas) e o primeiro trailer, com uma idéia de tom, atmosfera, plot, só agora.
Vamos aos fatos. RoboCop, que Paul Verhoeven dirigiu em 1987, é um clássico moderno da ficção científica. Disfarçado de filme de ação B genérico, a aventura numa Detroit tomada por violência (o que, hoje em dia, não é ficção) colocou Peter Weller como o policial que, à beira da morte, é fundido em uma armadura robótica e se torna um ciborgue a serviço de uma grande corporação. Neste futuro, a polícia é privatizada e o RoboCop é apenas mais um produto de olho em contratos militares. O cérebro do policial, adormecido ante a programação da máquina, acorda, revolta-se e nosso herói reencontra sua humanidade.
O filme de José Padilha mantém o esqueleto dessa trama, mas altera a jornada quase que por completo. Personagens do filme de Verhoeven não existem aqui, substituidos por novos jogadores em um novo tabuleiro. Nada de Anne Lewis, nada de Dick Jones, nada de Clarence Boddicker e nada de Bob Morton (embora Miguel Ferrer esteja no novo filme). O que, claro, é ótimo! Afinal, o novo RoboCop não quer ser uma cópia carbono de um filme com quase trinta anos de idade. É a reinterpretação de uma idéia, que pode dar muito certo (A Mosca, O Enigma de Outro Mundo) ou muito errado (O Dia Que a Terra Parou, O Vingador do Futuro). Padilha, diretor de dois Tropa de Elite, é mais inteligente que isso, e enxergou na história de Alex Murphy (Joel Kinneman), policial que sofre um atentado e é fundido a uma máquina, o material perfeito para discutir a desumanização da sociedade moderna, mais e mais dependente (voluntariamente) de máquinas, e o desespero de um homem que se torna um produto.
No trailer, Murphy parece consciente disso no momento que é "ativado", mas a ele é dada a "ilusão do livre arbítrio" – como coloca o cientista interpretado por Gary Oldman. É uma idéia interessante: manter o controle dando ao usuário a sensação de controle. Mais ou menos como todos nós quando entramos numa rede social, mandamos email ou usamos nosso celular. A sátira ao entretenimento (mais do que aos meios de comunicação como no filme de 1987) surge com Sam Jackson, que parece apresentador de um game show estridente, mas ainda a serviço dos poderosos. Michael Keaton (dono da empresa que cria o RoboCop), Abbie Cornish (que faz a mulher de Murphy), Jay Baruchel e Jackie Earle Haley também dão as caras.
José Padilha é, por sinal, um contador de histórias políticas. O material exibido na Comic-Con dava mais ênfase a esse aspecto do filme, também carregando na sátira e nos paralelos com o mundo como é hoje. O trailer, claro, serve para vender RoboCop ao grande público, e não só à minoria que vai chorar que "é diferente do filme de Paul Verhoeven". É claro, então, que o destaque é a ação, os tiroteios, o drama. O visual do personagem também apela para a platéia moderna, e o trailer mostra tanto uma armadura que lembra o design original de Rob Bottin (ainda imbatível) quanto o herói em "modo de combate" como um ciborgue negro, mas ágil e menos robótico – curiosamente o RoboCop era descrito assim no roteiro do filme dos anos 80, escrito por Ed Neumeier, o que a tecnologia da época não conseguiu realizar. Determinar o sucesso de um filme, ou mesmo sua qualidade, por dois minutos de comercial é um exercício de futilidade que eu deixo para os fãs mais exaltados. Eu prefiro acreditar na habilidade de Padilha e em sua sensibilidade como contador de histórias, principalmente com a caixa de brinquedos caros de Hollywood. Se tudo der errado? Bom, minha cópia de RoboCop, o de 1987, não deve se auto destruir quando o novo for lançado…
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