Nos últimos anos, Williams era uma sombra do gênio que dominou os anos 90
Robin Williams está morto. Possivelmente cometeu suicídio. Não há palavras para entender, encontrar lógica, buscar explicação. O ator combatia uma depressão severa, doença que leva muitos, ainda incompreendida, nem sempre encarada com a seriedade que merece. Nos últimos anos, Williams era uma sombra do gênio que despontou nos anos 70, explodiu nos 80 e dominou os 90. Sua energia maníaca foi o motor de algumas das comédias mais sensacionais das últimas décadas. Quando assumia papéis dramáticos, equilibrava delicadeza e sensibilidade com um lado sombrio insuspeito. Era um ator completo. Mas este ator estava recentemente escondido atrás de péssimas escolhas.
Sucesso e fracasso fazem uma balança cruel no mundo do entretenimento. Muitos administram bem os extremos. Se ora desaparecem ante uma avalanche de filmes ruins e demônios pessoais, uma boa escolha pode virar o jogo. Com Robert Downey Jr., foi Homem de Ferro. John Travolta teve Pulp Fiction. Mickey Rourke encontrou padrinhos em Robert Rodriguez e Darren Aronofsky. Robin Williams podia se encaixar em algum destes caminhos, mas não deu tempo. Seu último sucesso como protagonista foi Patch Adams, no já distante 1998. Depois, emprestou a voz à animação Happy Feet e foi coadjuvante na série Uma Noite no Museu.
Tentou fugir das comédias abraçando o outro extremo, como um psicopata em Retratos de Uma Obsessão, de Mark Romanek, e em Insônia, de Christopher Nolan – ambos lançados em 2002. Mas continuava apostando em papéis cômicos, que se mostraram uma pilha de fracassos financeiros e artísticos: Quem É Morto Sempre Aparece, Férias no Trailer, Candidato Aloprado, Licença Para Casar, Surpresa em Dobro. Nenhum deu certo. Nenhum chama a atenção. Apostou em uma volta à TV na série The Crazy Ones – só durou uma temporada. O recente The Angriest Man in Brooklyn fez zero barulho. Ainda tem três filmes na lata, a serem lançados até ano que vem: Merry Friggin' Christmas, o terceiro Uma Noite no Museu, e Absolutely Anything, do ex-Monty Python Terry Jones. Williams empresta sua voz a um cachorro.
Apontar fracassos é, na verdade, um desserviço à brilhante carreira de Robin Williams. Em absoluto seus revezes recentes encobrem o volume de talento bruto que ele exibiu em sua carreira. Nascido Robin McLaurin Williams em uma família abastada, ele considerou estudar Ciências Políticas antes de se decidir pelo palco. Egresso da conceituada escola Juilliard em Nova York, ele fez sua fama como comediante de stand-up antes de surgir na série Happy Days em uma pontra como o alienígena Mork. O sucesso foi acachapante, e Williams se viu, aos 27 anos, como protagonista da série Mork & Mindy. Quase uma centena de episódios depois, ele mal teve tempo de lamentar o fim da série ao estrear no cinema, em 1980, nas mãos de um gênio: foi dirigido por Robert Altman em Popeye.
O estrelato veio em 1987 com Bom Dia Vietnã, no papel de um DJ que encarava a dor do conflito com humor e boa música, que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar. Ele engatou uma série de pérolas com Sociedade dos Poetas Mortos (mais uma indicação à estatueta), Tempo de Despertar e o excepcional O Pescador de Ilusões (que lhe rendeu sua terceira indicação). Em Hook (1991), foi Peter Pan para Steven Spielberg. Em Aladin (1992), começou a moda de celebridades dublando animações no cinema. Uma Babá Quase Perfeita (1993) o transformou num campeão de bilheterias, que lhe deu grandes números em Jumanji (1995), A Gaiola das Loucas (1996) e Flubber (1997). A consagração artística veio no fim do mesmo ano, quando ajudou Matt Damon e Ben Affleck a tirar Gênio Indomável do chão e ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante.
Robin Williams se foi aos 63 anos. E o mundo está mais triste por causa disso.
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