Meninos, eu vi! Os Últimos Jedi é o filme menos Star Wars de toda a saga
Rian Johnson é bom em arrancar o chão sob nossos pés. Se o diretor desafiou expectativas em Looper, seu trabalho em Star Wars: Os Últimos Jedi vai além. No oitavo episódio da saga, Johnson deixa de lado a estrutura nostálgica que J.J. Abrams trouxe em O Despertar da Força e assume o papel de força do caos (sem trocadilhos). O que ele faz em Os Últimos Jedi é bagunçar o tabuleiro, trocar as peças de lugar e jogar pela janela nossa noção sobre heróis e vilões, certo e errado, luz e escuridão. O resultado é uma aventura de personagens complexos que, mesmo com o escopo da série, parece mais focada em alavancar os conflitos e entregar um filme que traz consequências drásticas para o futuro.
Drásticas e, agora, cobertas num véu de indefinição. Se O Despertar da Força é Guerra nas Estrelas, o passo lógico seria ter Os Últimos Jedi espelhando O Império Contra-Ataca. Mas Johnson nao é muito fã dessa lógica, colocando uma boa dose do fôlego conclusivo de O Retorno de Jedi na mistura. O novo filme, portanto, traz uma sensação de completude, ao mesmo tempo que escancara o caminho para um final em que, agora, tudo pode acontecer. É o filme menos "Star Wars" de toda a saga – e, ao ser construído dessa forma, termina abraçando todos os elementos que identificam a série. É a jornada do herói, menos bombástica mas não menos emocionante.
Claro que, para alcançar algum equilíbrio, é preciso destruir tudo antes. E é nesse estado em que se encontra a Resistência quando a aventura começa. A vitória contra a Primeira Ordem em O Despertar da Força foi tênue, e agora o novo império galáctico prepara-se para esfacelar o que sobrou dos novos rebeldes. A esperança é unir os povos descontentes pela galáxia, que perderam seu foco de luz desde que Luke Skywalker, lendário mestre Jedi responsável pela morte do imperador Palpatine décadas atrás, escolheu o exílio e retirou-se do cenário do conflito. Resta à sua irmã, a general Leia Organa, alimentar essa faísca e esperar pelo retorno de Luke. É essa a missão de Rey, que parte para a ilha onde o Jedi vive isolado, para convencê-lo a voltar. Claro que seu objetivo é mais profundo: depois que a Força despertou no conflito com o vilão Kylo Ren, ela busca entender seu papel neste novo mundo e precisa de um professor. Que, talvez, não seja o envelhecido e amargurado Jedi.
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Os Últimos Jedi faz um ótimo trabalho ao bagunçar a ordem "natural" das coisas e em estremecer a expectativa dos fãs. Ah, os fãs: se existe uma turma que pode achar farpas na estrutura do filme de Johnson são eles. O problema é que, até aqui, Star Wars seguiu uma certa lógica, um arco narrativo que, mesmo com as surpresas ("Não, Luke, eu sou seu pai!"), caminhava num crescendo até previsível. O novo filme bem que começa espelhando esse modelo. Temos uma batalha estelar, na qual vemos as habilidades de Poe Dameron (Oscar Isaac) como piloto sendo postas à prova. Temos uma fuga sem esperanças quando a frota da Resistência, Leia Organa (Carrie Fisher) à frente, termina numa corrida impossível de ser vencida ante o poderio da Primeira Ordem, com o próprio Líder Supremo Snoke (Andy Serkis) dando as cartas. Temos Finn (John Boyega) e Rose (uma nova personagem interpretada por Kelly Marie Tran) em busca de um macguffin que pode significar a vitória dos heróis. Laura Dern e Benicio Del Toro dão as caras como adições valiosas ao cânone da saga – e eu certamente quero muito ver mais do personagem de Del Toro.
Mas Os Últimos Jedi, no fim, é um estudo de personagem – concentrado em medo, poder, arrependimento, fúria e redenção, e representado por Rey (Daisy Ridley), Kylo (Adam Driver) e, principalmente, Luke (Mark Hamill). A natureza dos Jedi e seu papel neste novo mundo é reposicionada em um jogo de erros e acertos, de triunfos e fracassos, em que o ponto de vista de acontecimentos no passado são cruciais para determinar o futuro. O melhor jogador neste tabuleiro é Hamill. O otimismo juvenil de Luke Skywalker é uma lembrança já apagada, substituida por resignação causada por um erro impulsivo do passado, que pode ter colocado a perder a história e a linhagem da Ordem Jedi. Sua história, com Rey e com Kylo, é a força motriz da trama de Os Últimos Jedi; seu destino, uma pista do que pode acontecer no futuro. Falar mais é estragar as surpresas do filme. Mas tenha a certeza que Hamill é o verdadeiro mestre em um filme de superlativos, entregando uma performance intensa, equilibrando fragilidade e determinação em doses iguais. É um triunfo!
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Não que Rian Johnson tenha criado um drama intimista com Star Wars: Os Últimos Jedi. O filme anda é um espetáculo, uma aventura gigantesca repleta de momentos desenhados para que a platéia grite, chore, aplauda, emocione-se. Seja um personagem usando a Força de maneira nunca vista antes. Seja um combate com sabres de luz absolutamente inesperado, que Johnson filma com tensão. Seja a personalidade mais definida de Finn e de Poe. Ter o trabalho de criar um novo Star Wars não é tarefa fácil – é só perguntar à dupla Phil Lord e Chris Miller, ejetados de Solo: A Star Wars Story há alguns meses. Rian Johnson abraçou a tarefa não só com paixão, mas também com a disposição de quem quer não abalar, mas reduzir a pó as estruturas da saga. O trabalho duro fica agora nas mãos de J.J. Abrams, que assume o leme do nono episódio e a tarefa de encerrar este capítulo de Star Wars. Depois de Os Últimos Jedi, é impossível sequer supor o que está por vir. E nada como ter essa empolgação a essa altura do campeonato, quatro décadas depois que George Lucas nos conduziu a uma galáxia muito distante.
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