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Menos Star Wars, mais Marvel: Chefão aponta como será o futuro da Disney

Roberto Sadovski

21/09/2018 03h25

Bob Iger é um sujeito discreto. O que não deve ser muito fácil para o homem mais poderoso da indústria do entretenimento mundial. Presidente da Disney, Iger tem a palavra final no rumo de dúzias de propriedades intelectuais que embalam a cultura pop, e por isso ele mede suas palavras cuidadosamente. Raramente dá entrevistas, e a mais recente, publicada pelo Hollywood Reporter, mostra o posicionamento do estúdio do Mickey em um mundo cada vez mais conectado, cada vez mais veloz em suas mudanças, cada vez mais politizado e polarizado. Tolerância zero para qualquer sinal de um comportamento que possa afetar a empresa. Roseanne Barr foi demitida acertadamente por tuítes racistas; James Gunn, injustamente, por comentários de péssimo gosto feitos anos atrás – a régua foi a mesma, e Iger encerra a discussão com um "eu não pensei duas vezes". Bebidas alcoólicas? Serão permitidas na Disneyworld, quebrando uma regra imposta pelo próprio Walt décadas atrás. Mudanças sutis. Ainda assim, mudanças.

Já a compra da Fox pela Disney, um negócio de 71 bilhões de dólares, é uma mudança gigantesca não só para a estrutura da empresa, mas também para o horizonte da cultura pop. Nos próximos meses (anos?), cada pedaço do negócio será analisado e, aos poucos, o destino das várias partes da engrenagem será revelado. Iger diz que já conversou com todos os cabeças em diversas áreas da Fox, e que as mudanças serão implementadas no ritmo certo. Seu grande objetivo, e a compra a da Fox é a maior evidência, é produzir conteúdo de qualidade. O modo como entregar esse conteúdo, que também paira sobre a aquisição do estúdio responsável por Alien, Duro de Matar e Os Simpsons, também dita o futuro.

Joonas Suotamo, Woody Harrelson, Donald Glover, Ron Howard, Emilia Clarke and Alden Ehrenreich on the set of SOLO: A STAR WARS STORY.

O fracasso de Han Solo causou a desaceleração de Star Wars no cinema

Sobre isso, Iger não mede palavras ao justificar o peso da plataforma de streaming que a empresa está prestes a lançar, a Disney Play. "A vastidão de nosso catálogo de propriedades intelectuais nos dá uma vantagem de conteúdo", explica, colocando-se à frente da concorrência imediata como Netflix e Amazon. "Isso nos dá liberdade para focar em qualidade, não em volume." Ao mirar em produção, não em licenciamento, a Disney aposta em lucros menores a curto prazo e melhor posicionamento junto ao consumidor, sem intermediários, a longo prazo. Não é ao acaso que parte de movimentos milionários da empresa estejam justamente na produção de conteúdo para plataformas que não sejam o cinema ou a TV tradicional. Há poucos dias a Variety publicou o furo de que a Marvel estaria produzindo duas séries live action, uma centrada em Loki, outra na Feiticeira Escarlate – com os atores Tom Hiddleston e Elizabeth Olsen reprisando os papéis que tornaram famosos na tela grande. O diretor Jon Favreu, por sua vez, é a cabeça criativa por trás de uma série live action ambientada no universo Star Wars, que pode estrear já ano que vem. A idéia, pelo visto, é entrar na nova mídia com os dois pés na porta.

E é no conteúdo que o executivo deixou escapar os fragmentos mais saborosos de sua entrevista. Como por exemplo, o gosto amargo que a partida de John Lasseter, afastado da empresa sob a sombra de acusações de assédio, deixou. Iger comenta que a mudança cultural é inevitável quando existe uma troca de liderança, e a saída de Lasseter deixou um vácuo na Pixar e na Disney que aos poucos vai sendo preenchido. "Mas prefiro não entrar em detalhes", encerra a questão, seco. Sobre Star Wars, que enfrentou seu primeiro revés histórico com a recepção morna de Han Solo – Uma História Star Wars, Iger foi mais franco. "Em retrocesso, o erro foi pensar em muitas coisas e muito rápido", explica. "E foi um erro 100 por cento meu." O presidente da Disney refere-se ao entusiasmo em expandir o universo criado por George Lucas para além da "saga" principal, contratando roteiristas e diretores para um sem número de "Histórias Star Wars". "Seremos mais cuidadosos em relação a quantidade de projetos e sua janela de lançamento", continua. "Mas isso não significa que vamos parar de produzir filmes, só vamos tirar o pé do acelerador." Na prática, ele revela que a LucasFilm está no momento de começar a tomas as decisões pós-Episódio IX, que será dirigido por J.J. Abrams. Ou seja, a exploração de Star Wars pela dupla David Benioff e D.B. Weiss (Game of Thrones), e a nova trilogia assinada por Rian Johnson (Star Wars: Os Últimos Jedi), seguem a todo vapor.

Deadpool em breve vai entrar no Universo Cinematográfico Marvel

Já o Universo Cinematográfico Marvel segue em franca expansão. Bob Iger foi rápido ao definir como será o futuro do MCU com a aquisição da Fox, que até então controlava tudo que envolvesse Deadpool, X-Men e Quarteto Fantástico. Dois filmes estão na lata à espera de seu lançamento, X-Men: Dark Phoenix (que estréia em fevereiro do ano que vem) e Os Novos Mutantes (agendado para agosto de 2019). Além disso, Iger sugere que o controle das séries vai para as mãos de Kevin Feige, presidente da Marvel e maior responsável pelo sucesso dos filmes de super-heróis no cinema na última década. "Eu acho que faz sentido", explica, sem dar muitos detalhes. "Preciso ser cuidadoso aqui por conta do que já foi comunicado ao pessoal da Fox, mas acredito que eles já saibam. Faz sentido que a Marvel seja supervisionada por uma única entidade, não há motivo para existir duas Marvel."

Alguns anos atrás, o próprio Feige me disse ter planos de contingência para encaixar todos os personagens da editora que ainda não fizessem parte do MCU. Homem-Aranha: De Volta ao Lar provou que não há ninguém melhor do que ele para fazer esse encaixe. É possível imaginar o Quarteto Fantástico sendo inserido na cronologia sem maiores dramas, e até os mutantes X-Men podem fazer parte do universo mantendo sua essência de "odiados pela humanidade", sem ter de reescrever as regras apresentadas desde o primeiro Homem de Ferro (eu tenho uma teoria, qual a de vocês?). Será, portanto, que Deadpool pode se tornar um vingador? "Kevin tem um monte de ideias", provoca. "Não estou sugerindo que essa seja uma delas. Mas quem sabe?"

 

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.