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De 101 Dálmatas a O Rei Leão, um ranking com as versões de desenhos Disney

Roberto Sadovski

18/07/2019 10h01

O Rei Leão quebrou a "tradição" de chamar as adaptações de animações Disney de "versões live action". Mas não vamos deixar o fato de nada ser real no filme de Jon Favreau atrapalhar o batismo do filão milionário que o estúdio do Mickey inaugurou ao colocar Johnny Depp à frente de Alice no País das Maravilhas em 2010. Mas a lista de quem tem TOC é um problema, então eu aproveitei para colocar no ranking algumas tentativas que o estúdio encarou no século passado para traduzir seus desenhos com gente de verdade. Aproveitei e coloquei na mistura um híbrido de animação e live action que atualiza um…. outro híbrido! Por fim, é mais um… errr… "universo" em que a Disney pode apostar na memória afetiva de seu público com a nostalgia, sempre uma moeda de troca valiosa. Com vários já a caminho (Mulan, Cruella, A Dama e o Vagabundo), é um sub-gênero que não deve ter fim nem tão cedo. Fico no aguardo de A Canção do Sul – O Filme….

14. ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO
(Alice Through the Looking Glass, 2016)

Eu honestamente custei a lembrar que esse filme existia. A segunda adaptação da obra de Lewis Carroll é uma fantasia cansada, preguiçosa, que descarta qualquer boa vontade que ainda existisse depois da primeira aventura – que ao menos tinha em Tim Burton a certeza de ao menos apuro visual. Aqui, o diretor James Bobin recupera Mia Wasikowska como Alice, que retorna ao País das Maravilhas para ajudar o Chapeleiro Louco (Johnny Depp, no ponto morto) a descobrir o mistério acerca de sua família. Ah, e tem Sasha Baron Cohen como o vilão. Ou algo parecido. Fuja.

13. 102 DÁLMATAS
(102 Dalmatians, 2000)

Glenn Close é o único motivo para arriscar uma espiada nessa continuação que basicamente repete a trama de seu antecessor. Cruella de Vil, uma das grandes vilãs Disney de todos os tempos, sai da prisão e não demora a voltar a seu plano de roubar filhotes de dálmatas para fazer um casaco ainda mais robusto – dessa vez com um capuz. As crianças bem pequenas podem se divertir com a comédia pastelão, mas 102 Dálmatas não passou de uma tentativa bem desavergonhada em faturar mais uns trocados com a ideia até óbvia de transformar animações em filmes. De tão ressabiado, o estúdio levou uma década até tirar a poeira dos planos. Para todos os efeitos, funcionou…

12. ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
(Alice in Wonderland, 2010)

Johnny Depp estava em seu mais absoluto auge como astro de Hollywood ao retomar a parceria com Tim Burton nessa adaptação de Alice no País das Maravilhas. O mundo, por sua vez, estava encantado com as possibilidades da tecnologia 3D desde o fenômeno Avatar lançado meses antes. A combinação foi matadora, resultando em um sucesso de mais de 1 bilhão de dólares que viabilizou o plano de transformar animações clássicas em filmes com gente de verdade. Na prática, porém, não era para tanto. Indeciso em seu tom (vai de fantasia juvenil a uma batalha campal no calcanhar de Nárnia), Alice é uma bagunça que retém charme pela interpretação biruta de Depp e pelo visual exuberante comandado por Burton. Mas é, no fim das contas, uma experiência esquecível.

11. O LIVRO DA SELVA
(The Jungle Book, 1994)

Antes da fauna e flora revolucionárias de Jon Favreau (a gente volta já a esse assunto), a Disney arriscou levar a animação de 1967 aos cinemas como um filme de ação e romance que lembra mais Tarzan do que o texto de Rudyard Kipling. Jason Scott Lee, que fizera um certo barulho um ano antes como Bruce Lee na biografia Dragão, assume o papel de Mogli, que é deixado órfão na floresta aos 5 anos e cresce ao lado de uma alcateia. Duas décadas depois ele reconecta-se com a civilização, reencontra sua amiga de infância, Kitty (Lena Headey, beeeem antes de ser odiada por todos em Game of Thrones) e defende a Cidade dos Macacos no coração da ìndia de soldados invasores ingleses. Ah, o filme traz todos os animais da história original, como Balu, Baguera, Rei Louie e Shere Khan, mas eles não falam. Ainda assim, o diretor Stephen Sommers (pré-A Múmia) costurou uma história decente – que, infelizmente, naufragou nas bilheterias.

10. MALÉVOLA
(Maleficent, 2014)

A Bela Adormecida foi uma das animações que mais sofreu mudanças em sua transição para uma fábula live action. Como o título já entrega, o foco agora não é mais na princesa Aurora (Elle Fanning), e sim em Malévola, a feiticeira que fez história como uma das vilão mais espetaculares dos filmes da Disney. Claro que, nessa versão interpretada por Angelina Jolie, ela não é assim tão malvada, e sim injustiçada e incompreendida. Isolada na floresta, ela trama contra a vida da jovem princesa mas logo desenvolve por ela um afeto maternal, traduzido por fim em amor verdadeiro. O miolo da aventura, com Jolie e Fanning descobrindo sua conexão em meio às criaturas da floresta, é a melhor coisa de Malévola – que descamba num clímax derivativo e caído. Em outubro o filme ganha uma continuação, Malévola: Dona do Mal. A ver. Eu comentei sobre Malévola na época de seu lançamento aqui.

9. A BELA E A FERA
(Beauty and the Beast, 2017)

Bill Condon assumiu a tarefa de transformar em um filme live action uma das histórias mais importantes de todo o catálogo Disney. A Bela e a Fera, afinal, foi o primeiro desenho a ser indicado ao Oscar de melhor filme, então a pressão não foi pequena. Criativamente, Condon (que dirigiu o ótimo Deuses e Monstros e os dois episódios derradeiros de Crepúsculo) decidiu não arriscar, e traduziu a animação de 1991 quase ao pé da letra, abraçando ainda mais sua natureza de musical da Broadway. Visualmente perfeito e narrativamente inerte, A Bela e a Fera talvez tenha errado somente na escolha de sua protagonista: como Belle, Emma Watson pode ter mirado em "mulher moderna e empoderada", mas por fim só parece emburrada e mau humorada, deixando a leveza da jovem que enxerga beleza no coração da Fera enterrada pela neve que cerca seu castelo. Eu falei mais sobre o filme aqui.

8. 101 DÁLMATAS
(101 Dalmatians, 1996)

Glenn Close acertou em cheio ao criar uma Cruella de Vil charmosa e exagerada nessa versão de 101 Dálmatas (que para mim sempre será A Guerra dos Dálmatas, julgue-me). Com direção de Stephen Herek (responsável por Bill & Ted – Uma Aventura Fantástica), o filme transporta a ação de 1961 para a Londres contemporânea, contando com leveza o caso de amor dos dálmatas Pongo e Perdita (ok, e de seus donos Roger e Anita), que precisam enfrentar Cruella quando ela planeja roubar seus filhotes para fazer um casaco de peles. Apesar da trama bobinha, Herek caprichou não só na ambientação como deu à sua vilã um ar de rainha da moda, de figurinos e perucas extravagantes, que Glenn Close devorou com gosto. Simpático e divertido, 101 Dálmatas teve a seu favor zero pressão para fazer parte de um sub gênero que, mal sabiam seus realizadores, ia contribuir para a Disney dominar o planeta menos de duas décadas depois.

7. DUMBO
(2019)

Tim Burton tenta recapturar relâmpago em uma garrafa em sua segunda versão live action para um clássico Disney. Dumbo, claro, foi ainda mais trabalhoso que Alice no País das Maravilhas, já que a animação de 1941 traz um fiapo de história resolvido em pouco mais de uma hora. O filme usa a premissa básica do elefante de orelhas imensas separado de sua mãe para contar uma história que mistura a ganância do corporativismo com um discurso de defesa dos animais bastante moderno. Se o resultado deixou os puristas de cabelos em pé, a verdade é que Dumbo é um filme doce, que encontra sua conexão emocional ao celebrar aqueles que são diferentes. Eu falei mais sobre ele aqui, além de ter feito um perfil bacana de Danny DeVito aqui.

6. O REI LEÃO
(The Lion King, 2019)

O Rei Leão é uma realização agridoce. Se por um lado é um filme tecnicamente impecável, o que resulta em um simulacro digital do mundo real praticamente perfeito, por outro essa mesma perfeição joga para o time adversário quando os animais que protagonizam a aventura se mostram incapazes de expressar qualquer emoção. O resultado é estranho, como se um documentário do Animal Planet tivesse dublagem de Donald Glover e Beyoncé. Embora O Rei Leão tenha perdido parte de seu apelo lúdico com a decisão de criar um elenco foto realista – a morte de Mufasa não traz um décimo do impacto, já que somos privados da expressão de terror do pequeno Simba -, o filme de Jon Favreau deixa sua marca na história como o momento em que a tecnologia fez com que elementos da arte de fazer filme se tornassem obsoletos. Como uma locação. Você pode ler meu texto mais detalhado sobre O Rei Leão aqui.

5. CHRISTOPHER ROBIN – UM REENCONTRO INESQUECÍVEL
(Christopher Robin, 2018)

As Aventuras do Ursinho Pooh, lançado em 1977, marcou uma vitória para a Disney. Ao licenciar em 1960 os personagens criados por A.A. Milne, o estúdio do Mickey terminou por atropelar a obra e fazer com que sua versão fosse a definitiva aos olhos do público. Christopher Robin extrapola o filme original e entrega uma continuação tardia, em que Ewan McGregor interpreta o sujeito que, adulto, esqueceu das aventuras ao lado de Pooh e sua turma no Bosque dos Cem Acres. Após lutar na Segunda Guerra, já casado e com filhos, Robin vive para seu emprego – e nesse momento ele reencontra Pooh, que deixa o Bosque mítico para aventurar-se no "mundo real". Marc Forster (007 – Quantum of Solace, Guerra Mundial Z) criou um filme doce e muito fofo, que eu comentei à época de seu lançamento aqui.

4. ALADDIN
(2019)

Will Smith conquistou a maior bilheteria de sua carreira como o Gênio na versão dirigida por Guy Ritchie de Aladdin. Seu maior acerto foi sequer tentar seguir o trabalho de Robin Williams na animação de 1992. Em vez disso, Smith criou sua versão da criatura mágica como um astro pop, conduzindo o romance improvável e inevitável de Aladdin (Mena Massoud) e Jasmine (Naomi Scott) com bom humor e total exagero. Funciona, especialmente por Ritchie (responsável por filmes tão distintos como Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e os novos Sherlock Holmes) não tentar reinventar a roda, e sim jogar um pouco mais de purpurina sobre a coisa toda. Momentos de total júbilo ("Um Mundo Ideal" ainda é imbatível) antecedem um clímax que, vai saber o motivo, peca justamente por ser contido, quando a narrativa pede ostentação e suntuosidade! Como eu coloquei em meu texto original aqui, vou imaginar para todo o sempre uma versão conduzida por Baz Luhrmann…

3. MEU AMIGO, O DRAGÃO
(Pete´s Dragon, 2016)

Meu Amigo, O Dragão, comédia musical lançada pela Disney em 1977, é meio que uma bagunça. Concebido originalmente para a TV, terminou lançado no cinema misturando atores com criaturas animadas, mais ou menos como o estúdio fizera anos antes em Mary Poppins. Mas essa versão de 2016, dirigida por David Lowery, é uma das surpresas mais espetaculares de todo o catálogo do estúdio. As músicas foram pela janela, substituídas por uma aventura fantástica que coloca Robert Redford, Bryce Dallas Howard e Wes Bentley às voltas com Pete, um garoto órfão, que se comporta como um animal selvagem, criado em meio à floresta por um dragão felpudo. O que se segue é uma história mágica, sobre amizade, sobre família, com pitadas de ambientalismo e da desefa da natureza ante o avanço irrefreável do "progresso". Se, assim como Pete, eu tivesse 11 anos, seria o filme da minha vida.

2. CINDERELA
(Cinderella, 2015)

Kenneth Branagh traçou as regras de como traduzir um desenho animado clássico em um filme live action com sua belíssima adaptação de Cinderela, que colocou Lily James como a princesa que perde o sapatinho de cristal. A palavra-chave é equilíbrio: é entender melhor os personagens do que no desenho, sem que eles percam sua personalidade; é dar mais profundidade à trama sem quebrar o clima lúdico. É elegante sem deixar de ser completamente reconhecível por qualquer humano que tenha passado os olhos no filme original. É uma beleza de filme que, como eu falei aqui, encontra sua maior força na performance arrebatadora de Cate Blanchett como uma madrasta malvada de motivações demasiado humanas.

1. MOGLI, O MENINO LOBO
(The Jungle Book, 2016)

Jon Favreau conseguiu com seu Mogli um triunfo completo – como eu falei em meu texto original aqui. Visualmente é de cair o queixo, com o diretor usando a tecnologia digital desenvolvida por James Cameron para Avatar para recriar a floresta na Índia em que a aventura é desenvolvida. Segundo, ao entregar animais foto realistas que conseguem interpretar e cantar como no desenho de 1967. Até aí você deve estar se perguntando o que ele fez de diferente que faz de Mogli um filme superior a O Rei Leão. A resposta é fácil: com Neel Sethi, o garoto que interpreta o personagem-título, o filme ganha uma âncora humana que faz com que toda a jornada, embora criada em um ambiente totalmente digital, seja mais real. O roteiro esperto de Justin Marks ajuda a empreitada ao atualizar o texto original em uma aventura bonita, às vezes assustadora, mas sempre arrebatadora, sem nunca perder seu núcleo: na selva, ou em qualquer lugar, é importante descobrir o que mais valorizamos na vida. Ah, e tem Bill Murray como o urso Balu. Drop mic.

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.