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Os 15 melhores filmes de 2017

Roberto Sadovski

31/12/2017 07h29

Mais um ano que vai pro saco, mais um ano cheio de bons filmes. Melhor: de ótimos filmes! Se 2017 começou devagar, logo a coisa tomou fôlego e terminou com uma coleção invejável. Eu poderia ter feito um listão dos trinta melhores, mas daí seria preciosismo (fechar em quinze não fica muito atrás, mas né….). De qualquer forma, acho que a seleção reflete bem o que foi o ano nos cinemas pra mim, e o modo que encarei essa mistura de trabalho, diversão, arte e entretenimento que move meus dedos surrados.

Muita coisa boa, por sinal, não entrou no listão final por uma pá de motivos, mas merecem aplausos eternos. Os super-heróis Thor: Ragnarok e Mulher-Maravilha. O excelente Planeta dos Macacos: A Guerra. O argentino O Cidadão Ilustre. A pérola chilena Uma Mulher Fantástica. Bom Comportamento, com Robert Pattinson dando show. O terror bonitão It: A Coisa. Z: A Cidade Perdida, que merece reverência como tudo que James Gray faz. O francês elegante 120 Batimentos por Minutos. Gabriel e a Montanha, que me deixou às lágrimas. Okja, que não entrou na lista final por eu não ter visto no cinema. E, claro, o espetacular Star Wars: Os Últimos Jedi, que deu uma resteira em fanboys chatos e mostrou que o poder de uma boa narrativa vale mais do que o filme que cada um tem na cabeça.

Nas próximas semanas verei algumas coisas que poderiam entrar na lista. Lady Bird. Três Anúncios Para um Crime (esse eu perdi na Mostra de SP!). O Destino de Uma Nação. Todo o Dinheiro do Mundo, filme que Ridley Scott matou na unha. The Post, com Spielberg voltando ao passado para escancarar um espelho para o presente. Trama Fantasma, o canto do cisne (espera-se que não!) de Daniel Day Lewis. 2018, portanto, vai começar já pegando fogo! Para celebrar o fim de 2017, porém, estes foram os quinze melhores filmes que passaram por meus olhos. Feliz ano novo e não exagerem na birita!

15. JOHN WICK: UM NOVO DIA PARA MATAR
(John Wick Chapter 2, Chad Stahelski)

Quase duas décadas depois de Matrix, Keanu Reeves se reinventou mais uma vez como heróis de ação em De Volta ao Jogo, que apresentou o assassino trágico John Wick. Para este Um Novo Dia Para Matar, a escala permaneceu relativamente enxuta, com o diretor Chad Stahelski entregando mais uma história perfeita sobre traição e vingança. Reeves surge como o matador ainda relutante que segue um código moral particular, e o filme amplia a "mitologia" do primeiro, entregando um universo de assassinos que se espalham pelo globo. A coreografia de ação é um primor, trazendo uma vibe de John Woo em seu período de Honk Kong, somada a um verniz de produção que resulta num filme elegante, violento e bonitão. Como o bom cinema deve ser.

14. AO CAIR DA NOITE
(It Comes At Night, Trey Edward Shults)

Cinema de terror não é apenas uma máquina de fazer a plateia das pulos na poltrona; é também explorar temores mais profundos, encarar o desconhecido, é ver seus entes queridos desaparecendo um a um, é um senso de desolação e desespero, de desesperança e impotência. É esperar um fim doloroso e terrível e inevitável. Ao Cair da Noite captura esse sentimento com precisão, ao colocar a família encabeçada por Joel Edgerton, isolados em uma cabana na floresta, sem a menor ideia da moléstia que mergulhou o mundo numa espiral descendente pós-apocalíptica. Trey Edward Shults não demonstra o menor interesse em sustos rápidos, construindo uma atmosfera claustrofóbica com luz e sombras, com sons e silêncios. Uma pérola que, recomenda-se, não deve ser encarada sozinho. Vai por mim.

13. TERRA SELVAGEM
(Wind River, Taylor Sheridan)

A melhor coisa dessa nova safra de filmes de super-heróis é ver que os milhões de dólares nas bilheterias habilitam seus jogadores a experimentar um cinema, na falta de uma palavra melhor, mais autoral. Terra Selvagem traz Jeremy Renner e Elizabeth Olsen desvendando um assassinato em uma reserva indígena, cercados por um manto branco de neve e por homens que, naquele fim de mundo, acham que a lei não os alcança. Mas o filme de Taylor Sheridan (que escreveu o espetacular A Qualquer Custo, lançado ano passado) não se resume a um whudunnit: é uma trama de redenção, de força de vontade, de dor acumulada, de sede de justiça. Renner surge à vontade como o sujeito abalado por uma tragédia passada, Olsen traz o olhar estrangeiro – por consequência, o nosso – a um mundo tão próximo e tão distante, e Sheridan mostra que sabe filmar pra caramba, seja tensão, seja ação, seja beleza, seja morte. Um filmaço.

12. MÃE!
(mother!, Darren Aronofsky)

Há anos, décadas talvez, que um filme produzido por um grande estúdio não gera tanta polêmica, tanta controvérsia, tanta discussão. Aronofsky nem foi muito sutil em sua trama sobre a Mãe Natureza e o tratamento lixo dado a ela por nós, seus habitantes. No meio, ele salpica pedaços do Antigo e do Novo Testamento, cria metáforas sobre vida, morte e ressurreição um tanto quanto óbvias e entrega um recorte que é puro ego, mas também é puro deleite. O melhor momento em mãe!? Quando o filme joga as "regras" do cinemão pela janela e abraça o caos em sua definição mais absurda. Falem bem, falem mal, mas mãe! deu o que falar!

11. A GHOST STORY
(David Lowery)

Se existe um diretor eclético em atividade, ele é David Lowery. Depois de experimentar o cinemão com a refilmagem (bem bacana) de Meu Amigo, o Dragão, ele experimentou de verdade com A Ghost Story – que, infelizmente, não foi lançado nos cinemas aqui, mas eu tive o privilégio de conferir em tela grande. Quase um filme mudo, a trama acompanha um casal (Casey Affleck e Rooney Mara) e as consequências do acidente que ceifou a vida do irmão de Ben. Ele volta como um fantasma, literalmente um lençol com buracos para os olhos, disparando uma meditação sobre o legado que deixamos para trás, o curto da vida, a dor da perda e o gigantismo da existência, numa trama em que passado,presente e futuro entram em colisão. É um filme contemplativo, delicado, dirigido com precisão e de tamanha beleza que mal cabe em palavras.

10. ARTISTA DO DESASTRE
(The Disaster Artist, James Franco)

Minha primeira lembrança de The Room, uma catástrofe em forma de cinema dirigida em 2003 por Tommy Wiseau, é o cartaz gigante que ele deixou em uma avenida de Los Angeles por um bom par de anos. Era como um aviso, um alerta para os incautos que se atrevessem a conferir o drama amador tecido por Wiseau. Mas, como a vida é estranha, The Room tornou-se cult, atraiu legiões de fãs e fez seu co-astro, Greg Sestero, escrever um relato sobre seus bastidores. O que James Franco fez ao adaptar o livro foi uma carta de amor ao cinema, usando o trabalho de Wiseau como ponto de partida. Afinal, só mesmo amor para impelir um sujeito misterioso e sem o menor talento para torrar mais de 5 milhões de dólares numa bomba. O filme de Franco, por outro lado, custou o dobro – e vale cada centavo! Quer fazer uma sessão dupla esperta? Reveja Ed Wood, de Tim Burton, e depois se mande para o cinema.
Estreia 25 de janeiro

9. PROJETO FLÓRIDA
(The Florida Project, Sean Baker)

Tangerine, de 2015, foi uma experiência corajosa, um filme rodado inteiro em iPhones. Colocou o diretor Sean Baker no mapa, que escolheu em Projeto Flórida um método mais tradicional para captar as imagens – mas de igual impacto emocional. Durante a temporada de verão, em um hotel parcialmente transformado em lar dos menos abastados, turistas chegam à Flórida para as férias na Disneyworld. Mas o mundo dos moradores do lugar não reflete a alegria da vizinhança abastada. É nesse cenário que acompanhamos Halley (a revelação Bria Vinaite), que vive aos trancos com sua filha, a pequena Moonee, de 6 anos. À medida em que a temporada avança, seu controle sobra a própria vida mostra-se frágil, mesmo com a proximidade de Bobby (Willem Dafoe), gerente do lugar e única figura paterna que dá a mínima. O Sol brilha com menos intensidade para pessoas diferentes, e Projeto Flórida não se furta em erguer esse reflexo agridoce.
Estreia 1 de março

8. LOGAN
(James Mangold)

Hugh Jackman, depois de quase duas décadas, queria se despedir do personagem que lhe deu uma carreira com o filme perfeito. Conseguiu. Logan encerra seu retrato do Wolverine no cinema distanciando-se o máximo possível de qualquer resquício de "filme de super-heróis". O que Jackman e o diretor James Mangold teceram foi um western violento e pesado, trazendo um homem quebrado que precisa realizar uma última missão. Inspirado em Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood, Logan traz Jackman em uma interpretação frágil e sofrida, perfeita para dar vida pela última vez ao mutante de garras letais que surge envelhecido, solitário e assombrado por um passado que seu corpo insiste em lembrar. Adicione um mentor que aos poucos perde sua mente poderosa (Patrick Stewart, brilhante) e uma sucessora igualmente selvagem (Dafne Keen) e o resultado é um road movie com tintas de aventuras de gibis. Super-heróis no cinema, honestamente, não ficam melhor que Logan.

7. BINGO – O REI DAS MANHÃS
(Daniel Rezende)

É de filmes como Bingo que o cinema nacional precisa para encontrar oxigênio e buscar uma identidade. Em sua estreia na direção de longas, Daniel Rezende não se preocupou em teorizar a sociedade ou refletir a diversidade: o que ele quis foi fazer cinema, e conseguiu com este filmaço de grandes alegrias e profunda tristeza que dramatiza a vida de Arlindo Barreto, um dos Bozos que tomou a TV brasileira nos anos 80. Longe de ser mera biografia, Bingo é uma declaração apaixonada a uma época, ancorada pela trajetória de um homem que queria a fama e, mesmo conseguindo seu desejo, não conseguia preencher o vazio de sua vida (ele tentou, com mulheres e drogas, encontrando finalmente o que buscava na religião). No papel de Bingo, Vladimir Brichta mostra o grande ator que é, abraçando o conflito e os dilemas de seu personagem sem nunca deixar de lado o homem por trás da maquiagem.

6. EM RITMO DE FUGA
(Baby Driver, Edgar Wright)

Aqui vai uma declaração bombástica: Em Ritmo de Fuga é, de longe, o melhor filme da carreira de Edgar Wright. Não é pouco, já que ele também assina o maravilhoso Todo Mundo Quase Morto e o lisérgico Scott Pilgrim Contra o Mundo. Mas este Baby Driver é o pacote completo. Traz uma trama enxuta, bonita e bacana. O texto é amarrado com uma trilha sonora matadora que, sem pestanejar, ajuda a contar a história. Para dar vida aos personagens, Wright reuniu um elenco diverso, afiado e espetacular, em que o protagonista Ansol Elgort (quem diria!) se destaca em um time que traz Jamie Foxx, Kevin Spacey e Joe Hamm – o que não é pouco. Quer mais? As cenas de ação são um absurdo, de cara garantindo lugar entre as melhores sequências automobilísticas do cinema, como Bullit, Ronin e Os Irmãos Cara de Pau. Sem falar que é uma história de amor doce e apaixonante, que faz a gente torcer pelo mocinho, mesmo que ele não seja exatamente um sujeito do lado certo da lei. Como eu disse, o pacote completo!

5. ME CHAME PELO SEU NOME
(Call Me By Your Name, Luca Guadagnino)

Não tinha como dar errado. As cores quentes do norte da Itália em 1983. A paisagem lúdica. Adolescentes descobrindo amor, sexo e desejo. E um estranho que joga tempero na mistura. Com Me Chame Pelo Seu Nome, o diretor Luca Guadagnino (do delicado Um Sonho de Amor) abraçou tamanha beleza para contar uma história de amor tão inusitada quanto inevitável. De um lado, o adolescente de 17 anos Elio (o incrível Timothée Chalamet), que vive com seus pais entre livros, cultura e história. Do outro, o estudante universitário Oliver (Armie Hammer, uma revelação), que chega para estudar com o pai de Elio, morando na casa da família e mergulhando em sua vida. A tensão sexual entre Elio e Oliver é palpável de cara, mas Guadagnino toma seu tempo para desenvolver a relação de maneira orgânica, que brota da amizade, de sua herança judia e do amor mais puro que o cinema pode entregar. É um filme apaixonante, que merece a saraivada de prêmios que vem colecionando. Não duvide se uma certa estatueta dourada estiver a caminho…
Estreia 18 de janeiro

4. CORRA!
(Get Out, Jordan Peele)

A piada do ano foi Corra! ganhar uma indicação ao Globo de Ouro como melhor… comédia! Ok, o filme de Jordan Peele tem seus momentos. Mas é impossível encapsular este sucesso absurdo e inesperado em um único gênero. É o que menos importa. O triunfo de Peele foi criar uma narrativa que discute racismo de maneira tão poderosa sob um manto de ficção científica (mais um rótulo!), em um roteiro tão inteligente e surpreendente que, a certa altura, a cor da pele ganha outra estatura: sabemos quem é o "herói" da coisa toda e torcemos por ele. O mais bacana em Corra! é a discussão que ele gerou, em um momento tão decisivo quando minorias e diversidade ganham os holofotes em todos os cantos da sociedade, seja na política, seja na arte, seja em sua comunidade. É o filme certo na hora certa. "Eu fiz um documentário", diz Peele, encerrando a discussão. Não tem como discordar.

3. DUNKIRK
(Christopher Nolan)

Impressionante como a Segunda Guerra Mundial ainda gera filmes excelente como Dunkirk. O gênio aqui é Christopher Nolan, que fez um recorte de um evento histórico – a retirada de centenas de milhares de soldados ingleses encurralados entre o mar e as forças nazistas –, trocando uma narrativa linear por diferentes pontos de vista, que oferecem versões da mesma história que se completam. Dunkirk é, de cara, seu filme tecnicamente mais bem acabado, o que não é pouco quando a filmografia de Nolan traz A Origem, Interestelar e a trilogia O Cavaleiro das Trevas. Mais ainda: como cresceu na Inglaterra, este terminou sendo um filme mais pessoal, e a escala gigante da guerra termina abrindo espaço para dramas pessoas, para soldados e civis e voluntários que foram marcados pelo conflito. É emocionalmente complexo, visualmente poderoso e um dos melhores filmes de guerra que o cinema já produziu. Ah, e se você assistiu em Imax, sorte a nossa!

2. BLADE RUNNER 2049
(Denis Villeneuve)

Como continuar uma das maiores obras primas do cinema? Para o diretor Denis Villeneuve, a resposta está em Blade Runner 2049. Tudo é questão de intenção. "Melhorar" o clássico de Ridley Scott seria, obviamente, uma missão impossível. A opção do diretor de A Chegada foi, então, expandir o escopo, continuar a história, responder a perguntas suspensas no tempo e, no processo, criar novos questionamentos. Tudo em um universo igualmente belo e enigmático, em que o deserto mostra-se tão claustrofóbico quando as ruas emparedadas por edifícios que cortam as estrelas de Los Angeles. A trama mostra uma herança impossível do filme original, a possibilidade da vida artificial gerar uma nova vida. É essa missão incumbida a K (Ryan Gosling), replicante que atua com a polícia de Los Angeles ainda caçando seus pares. Ao deparar-se com o mistério de um corpo escondido há décadas, K parte em busca de Deckard (Harrison Ford), isolado longe da civilização à espera da redenção que nunca veio. Blade Runner 2049 é uma pérola que, pouco vista, deve ser aos poucos redescoberta por quem é apaixonado por cinema. A história, afinal, tem a tendência de se repetir.

1. A FORMA DA ÁGUA
(The Shape of Water, Guillermo Del Toro)

O amor de Guillermo Del Toro pelos monstros que habitam sua mente é incontestável. Que bom, então, que vivemos numa época em que o autor mexicano decide compartilhar a beleza inusitada de suas ideias com o resto do mundo. A Forma da Água é sua obra prima, uma história de amor entre criaturas incompletas que explode talvez na época errada, mas no momento certo para seus protagonistas. Tendo a Guerra Fria como cenário, Del Toro não deixa nenhuma gordura ao colocar, frente a frente, a faxineira muda de um centro de pesquisas militar e o ser anfíbio capturado e enclausurado para estudos, como quer o chefe civil do lugar. Sem perder tempo, a trama passa de inusitada a absurda, não tardando a abraçar uma beleza emocionante e um clímax que cutuca todas as nossas emoções, do medo à euforia, da tragédia ao triunfo. Sally Hawkins não é menos que sublime, Richard Jenkins nunca esteve tão doce, Michael Shannon é assustador e Michael Stulhbarg, que também bateu cartão em Me Chame Pelo Seu Nome, pode celebrar um ano incrível. E Doug Jones, por favor, continue essa parceria incrível com Del Toro: o mundo precisa, mais do que nunca, de sonhadores.
Estreia 1 de fevereiro

Aproveita que está por aqui e confira os melhores de 2016, 2015, 2014, 2013 e, voltando no tempo, os de 2007, aqui e aqui.

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Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.